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terça-feira, 23/09/2025

Fiocruz descobre nova molécula para tratar leishmaniose

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Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em conjunto com instituições do Brasil e do exterior, identificaram um novo composto químico que tem potencial para auxiliar no tratamento das leishmanioses, especialmente contra as formas resistentes aos tratamentos convencionais desenvolvidas nas últimas décadas.

Os cientistas criaram o SbVT4MPP, um composto modificado de porfirina, capaz de tornar os protozoários causadores da leishmaniose novamente sensíveis ao tratamento. A porfirina é um medicamento utilizado há quase 80 anos, sem grandes mudanças em sua estrutura.

O que são as leishmanioses?

As leishmanioses são doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania, transmitidos pela picada do mosquito-palha fêmea, que infecta diversos mamíferos, inclusive humanos.

Existem principalmente dois tipos da doença: a tegumentar, que afeta a pele e mucosas, e a visceral, que acomete órgãos internos como fígado e baço.

A leishmaniose visceral é caracterizada por febre prolongada, aumento do fígado e baço, perda de peso, anemia e fraqueza muscular, sendo a forma mais grave da doença.

A leishmaniose tegumentar provoca feridas na pele e mucosas que podem aumentar e gerar deformidades.

Nas áreas urbanas, o cão é o principal reservatório da leishmaniose visceral, podendo transmitir o parasita para o mosquito-palha.

O tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é gratuito, mas não elimina completamente o parasita, apenas controla sua presença e multiplicação.

No caso dos cães, o Ministério da Saúde recomenda a eutanásia para animais infectados como medida de controle, já que o tratamento não impede a transmissão da doença.

Este estudo foi publicado na edição de junho da revista Biomedicine & Pharmacotherapy. Em testes laboratoriais, o SbVT4MPP demonstrou ser até 170 vezes mais eficaz que os medicamentos tradicionais, operando em baixas concentrações com alta especificidade.

Os pesquisadores identificaram que essa molécula bloqueia a produção de ergosterol, fundamental para a formação da membrana celular do parasita. A enzima responsável por essa ação, a 24-SMT, está ausente nas células de mamíferos, o que minimiza os efeitos colaterais, pois o composto não atinge as células humanas ou animais afetados.

O composto foi testado em camundongos infectados com Leishmania donovani, causador da leishmaniose visceral, reduzindo em 96% a carga parasitária no fígado dos animais.

Doença negligenciada

Para o pesquisador Rubens Lima do Monte Neto, o desenvolvimento de novas terapias é fundamental diante da falta de medicamentos atualizados. A leishmaniose é uma doença negligenciada, pois afeta principalmente populações em situação de vulnerabilidade.

“Não há medicamentos novos disponíveis há muitos anos. A leishmaniose está em um estágio crítico no desenvolvimento de fármacos, conhecido como ‘vale da morte’. Embora existam alguns candidatos promissores em testes clínicos, nenhum medicamento novo chegou ao mercado até o momento. Investimentos são necessários para avançar, inclusive em nossa pesquisa. Muitas etapas ainda são necessárias antes da fase clínica, quando ocorrem os testes em humanos”, explica Rubens.

As leishmanioses são doenças negligenciadas transmitidas por flebotomíneos. O tratamento disponível pelo SUS controla a doença, mas não elimina totalmente o parasita.

Além da equipe da Fiocruz, participaram do estudo cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Paris-Saclay (França) e Universidade de Montréal (Canadá).

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