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sexta-feira, 05/09/2025

Fintechs baixam custo do crédito, aponta estudo

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JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Um estudo realizado pela consultoria econômica Tendências, solicitado por fintechs, mostra que a digitalização promovida pelo Banco Central e o crescimento das instituições financeiras digitais no Brasil ajudaram a diminuir o spread bancário — a diferença entre os juros cobrados pelos bancos e o custo que eles têm para captar recursos.

Divulgado na sexta-feira (5), o estudo “Mais Acesso, Menos Juros: A revolução silenciosa do Banco Central do Brasil” foi patrocinado pela Zetta, uma aliança que inclui fintechs como Nubank, PicPay e Wise.

“Nosso foco é apresentar provas concretas dessa transformação, que alguns tentam impedir para manter a situação atual. Ainda há muita concentração no mercado, com 65% dos depósitos nos cinco maiores bancos e apenas 6% nas fintechs”, explicou Eduardo Lopes, presidente da Zetta e diretor de políticas públicas do Nubank.

A pesquisa da Tendências compilou vários estudos sobre os efeitos das recentes ações do Banco Central na economia. Dados do Relatório de Economia Bancária do BC mostraram que, em 2022, locais com mais de uma instituição financeira permitiram que os empréstimos fossem transferidos entre elas, reduzindo a taxa de juros média em 0,8 ponto percentual, o que equivale a uma queda de cerca de 5% no spread.

O estudo “Credit Portability and spreads: Evidence in the Brazilian market”, publicado em 2019 por Paulo Azevedo, Paulo Ribeiro e Gabriela Rodrigues, mostrou que o crédito ao consumidor que permite portabilidade tem um spread entre 21% e 49% menor do que o crédito empresarial, que não oferece essa possibilidade.

Outro estudo mais recente, de 2025, feito pelo professor Marco Bonomo, indicou que a portabilidade de crédito no Brasil aumentou o bem-estar dos consumidores em 0,2% do consumo anual, o que significa que os brasileiros podem consumir 0,2% a mais graças a essa facilidade de trocar de instituição financeira.

Segundo o Banco Central, atualmente a portabilidade representa apenas 0,8% das concessões mensais de crédito, mas no crédito consignado, onde a transferência é mais simples, essa participação sobe para 12,1%.

Otávio Damaso, consultor do Nubank e ex-diretor do BC entre 2015 e 2024, destacou que esses números crescem ainda mais quando comparados aos brasileiros que já tinham acesso bancário antes do avanço das fintechs, já que o risco de crédito dessa população tende a ser menor.

“Ainda há muito a avançar, com grandes lacunas no atendimento, por isso acreditamos que esse movimento está só começando”, afirmou Damaso.

Apesar da redução nos custos, o spread bancário no Brasil continua entre os mais altos do mundo. Dados do BC de julho apontam que a média do spread é de 20,31%.

Maílson da Nóbrega, sócio-fundador da Tendências, ressalta que um dos motivos para o custo elevado são os impostos, além da taxa básica de juros em dois dígitos — atualmente em 15% ao ano.

“O Brasil é um dos poucos países que cobra impostos sobre transações financeiras. Entre 20% e 30% do spread é explicado pela tributação. Precisamos eliminar isso e aumentar a competição entre os bancos”, disse o ex-ministro da Fazenda.

Além disso, a pesquisa cita um estudo recente do BC que mostrou uma redução de 3,7 pontos percentuais nas taxas do crédito pessoal não consignado para os clientes no Cadastro Positivo. Para os que melhoraram seu score de crédito, essa redução pode chegar a 8,7 pontos percentuais.

O Pix também trouxe benefícios, pois não tem custo para pessoas físicas, o que ajudou a economizar R$ 26 bilhões entre 2021 e 2024, considerando uma taxa média de R$ 10 por TED. O custo total para criar o Pix foi de cerca de US$ 4 milhões (aproximadamente R$ 20,8 milhões na época).

O estudo ainda destaca relatório atualizado do FMI que aponta que a competição trazida pelas fintechs reduziu as taxas de empréstimos em 2,9 pontos percentuais e a margem líquida de juros em 1,3 ponto percentual.

No Brasil, 58% dos clientes das fintechs tiveram acesso a serviços financeiros que antes não tinham, o maior índice da América Latina, beneficiando cerca de 47% dos municípios sem agências bancárias, conforme dados do BC.

Entre janeiro de 2018 e maio de 2025, o total de usuários ativos no Sistema Financeiro Nacional e no Sistema de Pagamentos Brasileiro mais que dobrou. Contas jurídicas, incluindo microempreendedores individuais, cresceram 312%, chegando a 13,7 milhões de empresas. Já as contas de pessoas físicas aumentaram 114%, atingindo 163 milhões de usuários.

Fintechs menores foram criticadas recentemente após a Operação Carbono investigar algumas por suposto envolvimento com crime organizado devido a falhas na regulação — enquanto as maiores fintechs seguem regras semelhantes aos bancos e prestam informações ao Banco Central. Depois da operação, a Receita Federal passou a tratar todas as fintechs da mesma forma que os bancos.

Porém, ainda existem instituições financeiras que não exigem autorização do Banco Central, o que deve mudar apenas em 2029, quando todas as instituições, inclusive as de pagamento, precisarão desse aval.

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