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quinta-feira, 26/06/2025




Fim próximo do acordo nuclear entre Brasil e Alemanha?

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Um acordo nuclear entre Brasil e Alemanha, quase esquecido na Europa, completará 50 anos em junho de 2025. Esse acordo resistiu ao movimento antinuclear alemão e a eventos como os acidentes de Tchernobil em 1986 e Fukushima em 2011, além das mudanças na política energética da Alemanha, que fechou suas últimas usinas nucleares em 2023.

Assinado em 27 de junho de 1975, durante os governos do general Ernesto Geisel (1974-1979) e do chanceler federal alemão Helmut Schmidt (1974-1982), o acordo previa a transferência de tecnologia alemã para o Brasil, com a construção de oito usinas nucleares. Porém, somente uma dessas usinas, Angra 2, localizada no Rio de Janeiro, entrou em operação em 2001. Angra 3, também no Rio de Janeiro, está em construção desde 1986, com custos elevados.

O acordo, considerado na época o maior pacto tecnológico do século, encontrou resistências ao longo dos anos. O sociólogo Luiz Ramalho, presidente do Fórum da América Latina em Berlim e crítico do acordo, defende seu cancelamento, especialmente após a formação da coalizão progressista na Alemanha, envolvendo o Partido Social Democrata (SPD), o Partido Liberal Democrático (FDP) e o Partido Verde, que apresentou moções para encerrar o pacto.

Em 2004, o Partido Verde tentou cancelar o acordo, propondo uma transição para energias renováveis, mas a iniciativa falhou após pedido da então ministra brasileira de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Em 2014, outra moção para anular o acordo foi rejeitada pelo governo alemão, formado pela União Democrata Cristã (CDU) e SPD.

O deputado verde Harald Ebner critica o sucesso da cooperação: seis usinas previstas nunca saíram do papel e Angra 3 permanece inacabada há décadas, enquanto Angra 2 teve um longo e custoso processo de construção em uma área ambientalmente vulnerável.

Apesar das críticas, a energia nuclear encontra um ressurgimento em vários países. A Agência Internacional de Energia (IEA) indica que 40 países planejam ampliar o uso desse tipo de energia para suprir a crescente demanda elétrica. No Brasil, a energia nuclear representa 3% da matriz elétrica, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem demonstrado interesse em tecnologias nucleares avançadas, como as pequenas usinas nucleares da Rússia.

No contexto da Alemanha, que promoveu o desligamento das usinas após o acidente em Fukushima, o debate sobre energia nuclear ressurge após pedido de reativação por políticos nas eleições recentes. A ministra da Economia alemã, Katherina Reiche, demonstrou apoio à energia nuclear em encontros da Aliança Nuclear Europeia.

Para o deputado da CDU Thomas Silberhorn, o acordo brasileiro-alemão é um símbolo da cooperação técnica bilateral, que atualmente se volta para hidrogênio e energias renováveis, mas mantém seu valor na busca por independência energética.

O futuro do acordo depende da posição do SPD dentro da coalizão alemã. A líder da bancada do SPD na área energética, Nina Scheer, defende o fim do pacto nuclear e sua substituição por parcerias focadas em energias renováveis, acompanhando a transição energética e desafios globais.

Organizações antinucleares como a Ausgestrahlt, representada por Miriam Tornieporth, pedem o encerramento do acordo, considerando-o obsoleto e carente de mecanismos modernos de segurança.

Adicionalmente, a complexidade geopolítica atual, especialmente a guerra na Ucrânia, torna o acordo ainda mais controverso. A presença de parceria entre empresas nucleares francesas e a estatal russa Rosatom, que fornece urânio ao Brasil e opera usinas na Alemanha, levanta questões sobre sanções e segurança energética.

Miriam Tornieporth ressalta que o material nuclear russo é processado em usinas alemãs como as de Gronau e Lingen e enviado ao Brasil, o que seria problemático diante do fechamento das usinas nucleares alemãs.

O acordo nuclear entre Brasil e Alemanha, uma peça histórica de cooperação internacional, enfrenta hoje desafios políticos, ambientais e geopolíticos que podem determinar seu fim ou transformação nos próximos anos.




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