Desde 1999, a Venezuela está sob a liderança da ideologia chavista, atualmente comandada por Nicolás Maduro, cuja permanência no poder pode estar chegando ao fim. Sob a direção de Donald Trump, os Estados Unidos vêm ampliando a pressão militar ao redor da Venezuela, sinalizando uma possível ação para remover Maduro do governo e encerrar o regime ditatorial.
No final de julho e início de agosto, o governo americano anunciou recompensas de até US$ 50 milhões para quem fornecesse informações que levassem à prisão de Maduro, considerado chefe do Cartel de Los Soles pela administração de Trump. Em seguida, Trump ordenou a mobilização naval no Caribe, região próxima à costa venezuelana.
Essa mobilização inclui navios de guerra, caças modernos, um submarino nuclear e o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, empregados na rota marítima para possíveis ataques contra indivíduos que Trump classifica como “narcoterroristas”. A pressão militar dos Estados Unidos na Venezuela, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas, pode resultar no fim do governo Maduro, conforme opinião de especialistas consultados pelo Metrópoles.
“É muito provável que os EUA realizem um ataque militar à Venezuela. Maduro pode ser morto em um ataque, deposto por seus generais ou forçado a fugir. Entretanto, a estrutura de poder criada pelo chavismo, envolvendo as Forças Armadas, o Judiciário e outras instituições, será difícil de desmontar e isso pode levar anos”, afirmou Maurício Santoro, cientista político e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinho.
Se a intervenção acontecer, será a primeira vez que os EUA atacam diretamente um país da América do Sul.
O combate ao tráfico de drogas pode funcionar como justificativa para a intervenção militar americana, considerando a desaprovação do governo Trump ao colapso econômico, à crise migratória e à ilegitimidade do governo venezuelano, segundo Santoro.
Resistência da Venezuela
Diante do estado de exceção declarado, o presidente Nicolás Maduro ordenou a mobilização massiva de forças terrestres, aéreas, navais, fluviais e de mísseis, além de sistemas de armas, unidades militares e quase 200 mil milicianos. Apesar disso, as forças venezuelanas são inferiores às dos EUA, e a manutenção de seus armamentos pode ser comprometida devido à crise econômica.
Por outro lado, o professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), acredita que Maduro dispõe de melhores condições do que as supostas.
“O país não está isolado no cenário internacional, contando com apoio da Rússia e China em equipamentos e possivelmente recursos financeiros. Em caso de invasão, o governo teria maior respaldo popular, já que seus combatentes conhecem o território e lutariam por sua terra, suas famílias e nação”, destacou Ramalho.
Impactos na América do Sul e Brasil
A possível intervenção pode agravar a crise migratória na região, uma vez que cerca de 148 mil venezuelanos já entraram no Brasil neste ano, conforme dados do Observatório de Migrações Internacionais (OBMigra). Sob a gestão de Maduro, as relações comerciais com outros países, incluindo o Brasil, esfriaram significativamente.
De acordo com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, tais ameaças e uma possível invasão gerariam instabilidade não apenas no Brasil, mas em toda a América do Sul, transformando uma área pacífica em uma zona de conflito. Em contrapartida, segundo Ramalho, após a intervenção, o Brasil poderia assumir um papel mediador.
“A intervenção causará instabilidades regionais e abrirá espaço para intervenções externas, inclusive dos EUA. Caso aconteça, abrirá oportunidades para o Brasil atuar diplomaticamente na estabilização da área, podendo inclusive fortalecer a aproximação com os EUA, que buscarão manter algum equilíbrio na região”, declarou Ramalho.

