ALEX SABINO E ADRIANA FERNANDES
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A Fictor Holding Financeira, pouco conhecida no setor financeiro, apresentou nesta segunda-feira (17) uma proposta para adquirir o Banco Master, que pertence a Daniel Vorcaro e enfrenta problemas financeiros.
Segundo comunicado, a Fictor planeja comprar o Banco Master junto com investidores dos Emirados Árabes Unidos, que juntos administram mais de US$ 100 bilhões em ativos, embora seus nomes não tenham sido divulgados.
A aquisição depende da aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e prevê um investimento de R$ 3 bilhões para fortalecer o capital do banco.
A Fictor é parte de um grupo que atua nos setores de alimentos, gestão de recursos, pagamentos, energia e imóveis, patrocinando o Palmeiras com R$ 30 milhões por ano. O conglomerado possui cerca de 30 empresas com um valor conjunto superior a US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões).
Este anúncio ocorre enquanto Daniel Vorcaro tenta salvar o banco, que em março possuía cerca de R$ 60 bilhões em depósitos a pagar.
Durante o processo de venda, o Banco Master deve continuar honrando os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) vendidos, sob risco de liquidação pelo Banco Central caso não possam ser pagos.
Fontes afirmam que a Fictor divulgou a proposta antes de obter autorização do Banco Central, prática incomum no setor financeiro, e ainda não conversou com o Fundo Garantidor de Créditos sobre a linha de liquidez bilionária concedida.
Se a compra for finalizada, a Fictor assumirá 100% das ações atualmente nas mãos de Daniel Vorcaro, que deixará o controle. Um novo conselho será formado, um presidente será escolhido, e o banco passará a se chamar Banco Fictor.
Vale ressaltar que o acordo não inclui o Will Bank nem o Banco Master de Investimentos.
Rafael Góis, sócio da Fictor Holding Financeira, declarou que esse movimento marca a entrada do grupo no mercado financeiro brasileiro.
Daniel Vorcaro destacou a força e a resiliência do banco com a transação, sem informar se receberá algum valor pela venda. Para manter o banco, ele já vendeu bens pessoais e obteve uma linha de crédito de mais de R$ 4 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em maio para honrar os depósitos.
Compra anterior rejeitada
Em setembro, o Banco Central rejeitou o acordo pelo qual o Banco de Brasília (BRB) tentava adquirir o Master, que envolvia R$ 23 bilhões em ativos, citando riscos no processo de sucessão, já que o BRB teria que assumir muitas operações desconhecidas do Banco Master.
Essa decisão gerou incertezas sobre o futuro do banco, sua capacidade de pagar os CDBs e a possibilidade de o Banco Central intervir ou liquidar a instituição, acionando o FGC.
O Fundo Garantidor assegura depósitos de até R$ 250 mil por investidor em caso de falência de bancos.
O Banco Master enfrenta dificuldades financeiras desde o fim do ano passado, pois baseou seu crescimento em ativos com baixa liquidez, como precatórios, enquanto oferecia altos rendimentos em CDBs garantidos pelo FGC.
Além de vender bens pessoais, Daniel Vorcaro negociou ativos com o BTG por R$ 1,5 bilhão, incluindo ações de empresas, precatórios e imóveis como o Hotel Fasano em São Paulo. Após a rejeição da compra pelo BRB, ele também vendeu outros ativos como precatórios e a seguradora Kovr.
Atuação na Bolsa
A Fictor Alimentos, empresa do grupo, tem ações listadas na Bolsa brasileira. No ano passado, adquiriu a Atom Participações, liderada pela influenciadora Carol Paiffer, jurada do programa Shark Tank Brasil.
Essa aquisição, feita em parceria com a Conquest, facilitou a entrada da Fictor na B3 por meio de um ‘IPO reverso’, onde uma empresa usa uma companhia já listada para se apresentar no mercado acionário.
Após a compra, a Atom foi renomeada para Fictor Alimentos, que atua no agronegócio.
O anúncio sobre a compra do Banco Master ocorreu com o mercado de ações aberto. No fechamento do pregão, as ações da Fictor Alimentos (ticker FICT3) subiram 2,3%, atingindo valor de mercado de R$ 138,165 milhões.
No mês anterior, a FictorPay, empresa de pagamentos do grupo, sofreu um ataque cibernético que resultou no furto de R$ 24 milhões. A tecnologia utilizada pela empresa é fornecida pela startup Diletta, também afetada pelo ataque.
