JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Uma possível redução dos juros nos Estados Unidos pode facilitar o trabalho do Banco Central do Brasil para controlar a inflação, mas economistas acreditam que isso não será suficiente para reduzir a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, num futuro próximo.
Na sexta-feira (22), o presidente do Fed, o Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, mencionou que há chance de queda nos juros americanos na próxima reunião, marcada para 17 de setembro.
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, essa declaração indica que o Fed entende que a inflação nos EUA pode ser temporária e que os riscos de desaceleração do mercado de trabalho aumentaram, o que justificaria uma mudança na política monetária.
“Com isso, o dólar está caindo muito porque, nos últimos dias, houve preocupação de que o Fed não apresentasse esse posicionamento no evento de Jackson Hole, ou que a economia americana continuasse forte”, explica Alves.
Por volta do meio-dia, o dólar caiu 1,51%, sendo cotado a R$ 5,414. Já a Bolsa subiu 2,15%, chegando a 137.405 pontos.
Segundo Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics, a queda do dólar frente ao real ocorre pela expectativa de que a diferença entre os juros do Brasil e dos EUA aumente, já que os juros americanos podem cair em setembro, enquanto os brasileiros permanecem em 15%.
“Essa situação torna o Brasil mais atrativo para investimentos em renda fixa, elevando o valor do real. Entretanto, um corte de juros nos EUA não deverá ser seguido pelo Banco Central do Brasil. Aqui, o BC espera uma queda mais significativa da inflação e das suas expectativas, ambas ainda longe da meta de 3%”, afirma Adriana.
Nos últimos 12 meses, o IPCA, que mede a inflação oficial do país, acumulou alta de 5,23%, acima do teto da meta do Banco Central, que é 4,5%.
A pesquisa Focus mostra que o mercado espera que a inflação em 2025 fique em 4,95% e que diminua para 4,40% no ano seguinte, quando a Selic poderia baixar para 12,50%.
Embora um dólar mais fraco possa ajudar a conter a inflação, pode prejudicar as exportações brasileiras.
“Uma moeda mais forte para o Brasil ajuda a controlar a inflação, mas as empresas que exportam podem sofrer um pouco. Na verdade, não é o real que está forte, e sim o dólar que está fraco, porque esse é o objetivo do presidente Donald Trump”, explica o economista André Perfeito.
O presidente dos EUA tem pressionado Powell por uma redução nos juros há meses. O Fed mantém a taxa americana entre 4,25% e 4,5% desde dezembro do ano passado, antes de Trump assumir.
Este ano, em cinco reuniões, os diretores mantiveram a taxa estável, apesar da pressão de Trump, que deseja uma redução de três pontos percentuais.