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sábado, 02/08/2025

Febre oropouche se espalha rapidamente pelo Brasil

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Até 2023, a febre oropouche era uma condição quase exclusiva da Região Amazônica, mas em 2025 o Espírito Santo, localizado a quase 3 mil km de distância, passou a registrar o maior número de casos, com 6.318 confirmações. Pesquisadores buscam entender os fatores que contribuíram para a disseminação da doença pelo Brasil, enquanto gestores de saúde desenvolvem estratégias para seu controle diante de uma população sem imunidade prévia.

Este ano, infecções por oropouche já foram confirmadas em 18 estados e no Distrito Federal, totalizando 11.805 casos. Foram registradas cinco mortes causadas pela doença, quatro no Rio de Janeiro e uma no Espírito Santo, além de duas mortes sob investigação.

Os casos de 2025 superam os de 2024 quase todas as semanas, com previsão de ultrapassar os 13.856 registros do ano passado. O número de óbitos também já é maior, considerando que em 2024 foram quatro falecimentos: dois na Bahia, um no Espírito Santo e um em Santa Catarina.

A febre oropouche é provocada por um vírus transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora, encontrado em todo o país. A doença apresenta sintomas semelhantes aos de outras viroses transmitidas por mosquitos, como dengue e chikungunya, destacando-se febre, dores de cabeça, musculares e articulares.

A infecção pode provocar complicações graves na gravidez, incluindo microcefalia, malformações fetais e óbito, similar ao Zika vírus. Por isso, o Ministério da Saúde orienta que gestantes em áreas com casos reforcem a proteção contra os mosquitos. Embora a transmissão sexual ainda não tenha comprovação, pessoas com sintomas devem utilizar preservativo durante relações sexuais como medida preventiva.

Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz, explica que estudos genéticos indicam a circulação de uma nova linhagem viral, originada no Amazonas e disseminada pelas regiões Norte e em seguida outras partes do país. Ele destaca que o desmatamento recente no sul do Amazonas e norte de Rondônia atuou como polo de dispersão, com pessoas infectadas levando o vírus para além da Região.

O mosquito maruim está presente nacionalmente, mas reproduz-se em áreas úmidas com matéria orgânica em decomposição, predominando em ambientes florestais e agrícolas, especialmente plantações de banana. Surtos têm ocorrido principalmente em zonas periurbanas, áreas de transição entre zonas rurais e urbanas. Apenas as fêmeas transmitem o vírus, podendo também infectar animais.

Felipe Naveca adiciona que eventos climáticos extremos, como secas ou enchentes, alteram a população do mosquito e dos animais hospedeiros, modificando o ecossistema e influenciando na circulação viral. Dados indicam que o vírus se multiplica durante períodos chuvosos na Amazônia.

Pesquisa internacional envolvendo seis países sul-americanos verificou que variações climáticas, sobretudo mudanças na temperatura e nas chuvas, respondem por cerca de 60% da disseminação da oropouche, apontando eventos climáticos extremos, como o El Niño, como fatores importantes para o surto iniciado em 2023.

O Ministério da Saúde intensifica o monitoramento dos casos, promovendo reuniões e visitas técnicas aos estados para orientar sobre correta notificação, investigação e encerramento dos casos suspeitos. Em parceria com a Fiocruz e a Embrapa, desenvolve estudos iniciais sobre o uso de inseticidas no controle do vetor, com resultados promissores que devem apoiar estratégias para manejar surtos e reduzir impactos. Medidas preventivas recomendadas incluem uso de roupas de mangas longas, calçados fechados, telas finas em janelas e remoção de matéria orgânica acumulada.

O Espírito Santo em alerta

No Espírito Santo, estado com aproximadamente 4 milhões de habitantes, as autoridades sanitárias acompanham de perto a situação, pois o estado acumulou o maior número de casos em 2024 e 2025. O subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, comenta que muitos dos 78 municípios possuem características periurbanas com extensas áreas agrícolas, especialmente plantações que favorecem a reprodução do maruim.

Orlei Cardoso acrescenta que o surto teve início na colheita do café, período em que trabalhadores migrantes circulam entre cidades, facilitando a transmissão, já que os sintomas demoram a se manifestar após a infecção.

Enquanto pesquisadores mapeiam as regiões com maior incidência do mosquito, a secretaria de saúde promove capacitação dos profissionais para reconhecimento clínico da doença e diferenciação dela de outras arboviroses como dengue, além de treinar agentes comunitários de saúde para atendimento adequado.

Emergência também no Nordeste

A febre oropouche apareceu recentemente em estados do Nordeste, com destaque para o Ceará, que contabilizou 674 casos em 2025. Antonio Lima Neto, Secretário Executivo de Vigilância em Saúde do Ceará, relata que os primeiros casos ocorreram em áreas rurais com cultivo de banana, cacau e mandioca, concentrados no Maciço de Baturité, uma região serrana do estado.

Em 2025 houve expansão para a cidade de Baturité, com população muito maior, o que acelerou a propagação da doença.

Antonio Lima Neto informa que o Ceará investe em estratégias clínicas e vigilância laboratorial para diagnóstico correto, especialmente em gestantes. O estado registrou uma morte fetal ligada à infecção por oropouche. Em 2024, o Brasil notificou cinco óbitos fetais e um caso de anomalia congênita atribuídos ao vírus.

Antonio Lima Neto destaca as dificuldades no controle do mosquito maruim, diferente do Aedes Aegypti, pois sua reprodução ocorre em plantas e ambientes naturais. A eliminação de criadouros e a implementação de barreiras químicas entre plantações e áreas urbanas são essenciais, embora os testes para inseticidas eficazes estejam em andamento e sejam complexos.

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