A atividade de grupos criminosos na região da Amazônia Legal está aumentando rapidamente, alcançando em 2025 o nível mais alto já registrado desde o início do acompanhamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
O número de municípios onde facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) atuam subiu de 260 para 344 em um ano, representando um crescimento de 32%, conforme divulgado no relatório Cartografias da Violência na Amazônia, apresentado em 19 de novembro durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA).
Em dois anos, a presença dessas facções praticamente dobrou na Amazônia, passando de 178 municípios em 2023 para 344 atualmente, o que corresponde a 44,6% dos 772 municípios da região.
Esse aumento pode indicar tanto uma expansão efetiva das organizações quanto melhorias nas metodologias de pesquisa e intensificação das operações policiais, que vêm identificando grupos anteriormente desconhecidos.
Expansão acelerada das facções
Em 2025, 84 novos municípios passaram a registrar a presença dessas organizações. Em 2024, o relatório já mostrava um aumento acentuado de 46% em comparação a 2023.
Enquanto muitos municípios com facção são urbanos, destaca-se que 166 dos 344 municípios com atuação criminal são rurais. As facções têm aumentado sua influência em rotas fluviais, áreas fronteiriças e locais dominados por atividades ilegais como garimpo, exploração madeireira e grilagem.
O Mato Grosso lidera o crescimento, com 50 dos 84 novos municípios, seguido pelo Pará, com 18.
- 258 municípios têm atuação de uma única facção;
- 86 municípios enfrentam a disputa de duas ou mais facções simultaneamente.
O Comando Vermelho expandiu sua presença para 286 municípios, tornando-se a facção dominante na região, enquanto o PCC mantém presença estável em 90 cidades.
Criminalidade integrada
O relatório enfatiza que o crescimento das facções na Amazônia Legal é parte de um sistema criminoso interligado, que combina narcotráfico, crimes ambientais e outras atividades ilícitas.
Essa conexão reorganiza territórios, redes de poder e formas de violência, com as facções agindo como um Estado paralelo, impondo regras, cobrando pedágios por atividades ilegais e governando áreas onde o Estado não tem atuação efetiva.
Ouro ilegal como moeda de troca
O garimpo ilegal de ouro conecta o narcotráfico a crimes ambientais: o dinheiro das drogas é reinvestido na extração ilegal, e o ouro serve como moeda para a compra de cocaína na Colômbia e no Peru.
Facções controlam cadeias de extração mineral em Terras Indígenas (como a TI Sararé em Mato Grosso), impondo regras, tributos e controle rigoroso sobre quem pode acessar essas áreas.
As rotas clandestinas usadas para transportar ouro, cocaína, armas e trabalhadores são as mesmas, muitas vezes fluviais ou aéreas.
A diversificação dos negócios das facções inclui parcerias com grupos ligados ao desmatamento, grilagem, exploração madeireira ilegal e pesca predatória, consolidando um portfólio interdependente de crimes, tornando a floresta um ativo econômico valioso para o crime organizado.
Impactos na população
A expansão das facções afeta a violência local e aumenta riscos particularmente para mulheres, povos indígenas e comunidades isoladas que têm pouco acesso a políticas públicas.
As mulheres vivem em situação de extrema vulnerabilidade, com taxas de violência sexual 33,8% superiores à média nacional na Amazônia Legal. Nas áreas de garimpo ilegal, essa violência está inserida em um sistema de coerção que inclui exploração sexual, servidão por dívida, punições e controle rigoroso. A presença armada das facções agrava essa realidade.
Em Terras Indígenas, como no Vale do Javari e territórios Yanomami, Sararé, Munduruku e Kayapó, as facções criam novos perigos para as comunidades, posicionando essas áreas como corredores do tráfico de drogas e pontos de venda em aldeias.
Há recrutamento de adolescentes, riscos de contaminação por mercúrio e forte degradação ambiental.
Na região do Alto Solimões, o tráfico tira proveito da ausência estatal, usando territórios indígenas como rotas estratégicas para escoar cocaína, segundo o relatório.
