Cada vez mais conectado com a comunidade internacional, Ahmed al-Sharaa, o atual presidente da Síria, tornou-se o primeiro líder sírio a se dirigir à Assembleia Geral da ONU depois de 58 anos. Apesar de seu passado ligado a grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, o ex-terrorista subiu ao púlpito nesta quarta-feira (24/9) para seu discurso.
Novo presidente da Síria
Após a queda de Bashar al-Assad, em dezembro de 2024, os rebeldes prometeram grandes mudanças para a Síria, que passou por anos de guerra civil. Ahmed al-Sharaa, líder da ofensiva contra o regime de Assad, promete um governo menos opressivo e tem buscado apoio internacional para a reconstrução do país.
Embora possua um histórico ligado ao jihadismo, tendo sido comandante principal da Al-Qaeda na Síria, os Estados Unidos e países da União Europeia têm se aproximado do novo governo sírio.
Antes de al-Sharaa, o último presidente da Síria a discursar na Assembleia Geral da ONU foi Nureddin al-Atassi, em 1967, antes da ascensão de Hafez al-Assad ao poder.
Devido ao isolamento internacional, tanto Hafez quanto Bashar al-Assad evitavam participar de eventos anuais das Nações Unidas em Nova York e outros fóruns globais.
No discurso feito frente a líderes mundiais, al-Sharaa dedicou grande parte do tempo para criticar o antigo governo que esteve sob controle da família Assad por mais de cinco décadas.
Para o presidente interino, o regime anterior causou “anos de injustiça, opressão e privação” ao povo sírio, forçando a população a organizar resistência e se preparar para uma grande luta histórica, referindo-se à tomada de poder liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
al-Sharaa também se comprometeu a levar à Justiça todos os envolvidos nas ondas recentes de violência que atingem o país, incluindo grupos sectários e membros do governo atual.
Até o ano passado, o líder sírio era classificado como terrorista pela comunidade internacional, inclusive pelos Estados Unidos, sede da 80ª Assembleia Geral da ONU.
No início dos anos 2010, quando ainda ligado à Al-Qaeda, al-Sharaa chegou a ser preso por forças americanas no Iraque. Durante sua detenção na Prisão Camp Bucca, na fronteira com o Kuwait, manteve contatos que futuramente o aproximaram do Estado Islâmico.
Por anos, o presidente atuou no grupo jihadista, sendo comandante da Frente Nusra, afiliada do ISIS na Síria. Em torno de 2017, rompeu com Al-Qaeda e Estado Islâmico para fundar o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), responsável pela ação militar que derrubou Bashar al-Assad.
Mesmo com seu passado jihadista, inclusive ligado ao grupo do atentado de 11 de setembro, al-Sharaa recebeu sinais positivos após assumir o poder.
Um exemplo foi a atitude do governo dos EUA, liderado por Donald Trump, que em julho recebeu o presidente sírio na Arábia Saudita e anunciou o fim das sanções contra a Síria.
Além disso, tanto o HTS quanto al-Sharaa foram retirados da lista de terroristas procurados pelos Estados Unidos.