CÉZAR FEITOZA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O coronel da reserva Marcelo Câmara declarou perante o STF (Supremo Tribunal Federal) que não manteve nenhum contato com o delator Mauro Cid após ser liberado em maio de 2024.
A declaração ocorreu durante audiência de custódia na quinta-feira (19), um dia depois de Marcelo Câmara retornar à prisão por ordem do ministro Alexandre de Moraes. O vídeo da audiência foi divulgado pelo Supremo nesta segunda-feira (23).
“Desde a minha libertação, em 16 de maio, busquei cumprir todas as medidas cautelares impostas, incluindo a proibição de contato que me estão atribuindo descumprir. Não tive comunicação com o colaborador, nem diretamente nem por intermédio de terceiros”, afirmou Câmara.
O coronel foi detido na quarta-feira (18) acusado de violar restrições que impediam contato com outros investigados na investigação de uma suposta trama golpista.
No entanto, o advogado de Câmara, Luiz Eduardo Kuntz, divulgou recentemente uma série de mensagens trocadas com Mauro Cid entre janeiro e março de 2024, via Instagram.
Nessas mensagens, o delator detalha seus depoimentos à Polícia Federal e expressa frustração pela falta de apoio dos antigos colegas.
“O pior é sentir que estou prejudicando todo mundo”, escreveu o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro em uma das mensagens. “É resultado de uma perseguição da qual não tive intenção.”
Kuntz compartilhou o diálogo para sustentar que Cid não teria entregue suas colaborações voluntariamente, o que justificaria a anulação do acordo de delação pelo Supremo.
Em suas conversas, Kuntz questiona Cid sobre detalhes das informações relacionadas a Marcelo Câmara passadas à PF. “No seu acordo, você incluiu deixar o Câmara de fora ou não?”, perguntou o advogado.
Cid teria respondido: “Pedi para o Dr. Cezar conferir isso”, referindo-se ao advogado Cezar Bittencourt. “Ele havia me dito que aceitou tudo.”
Na audiência, Luiz Eduardo Kuntz argumentou que a prisão de Marcelo Câmara deveria ser anulada, pois as conversas com Mauro Cid aconteceram enquanto Câmara ainda estava preso, antes da imposição das medidas cautelares.
“Não é possível desobedecer algo que ainda não havia sido determinado. Por isso, solicito que a prisão seja revista, com a revogação da custódia, mantendo-se apenas as medidas cautelares eletrônicas”, declarou o advogado.
Marcelo Câmara é réu no STF por sua suposta participação em atos para frustrar a ordem democrática. Militar da reserva, ele foi assessor especial do ex-presidente Jair Bolsonaro e era próximo ao ex-mandatário.
A Procuradoria-Geral da República acusa Câmara de monitorar a localização do ministro Alexandre de Moraes, um dos alvos das investigações sobre as ações ilegais.
A defesa de Marcelo Câmara apresentou ao Supremo um pedido formal para que ele seja liberado. A decisão final caberá ao ministro Alexandre de Moraes.