O ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Eduardo Tagliaferro declarou que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes requisitava, através dos juízes auxiliares, relatórios concernentes às redes sociais da deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP).
Tagliaferro chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação no TSE de agosto de 2022 até maio de 2023, período em que Moraes presidia a corte.
Segundo o ex-assessor, a observação contra a deputada era persistente e frequente, chegando a ocorrer várias vezes por semana. Quaisquer menções à Carla Zambelli nas redes sociais eram alvo de atenção especial.
Em audiência na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, Tagliaferro afirmou que Zambelli era um dos principais alvos entre os parlamentares e influenciadores de direita monitorados pelo TSE a mando do ministro. Estes acompanhamentos eram realizados por servidores do gabinete de Moraes por meio de ferramentas de inteligência.
Ele apresentou evidências como relatórios produzidos, e-mails enviados ao gabinete do ministro e conversas por aplicativos de mensagens que demonstram a perseguição contra Carla Zambelli, inclusive com expressões como “Vamos pegar ela”.
Tagliaferro é alvo de investigação por supostamente ter divulgado comunicações internas entre servidores de Moraes no STF e no TSE, denunciado pelo Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, por crimes como violação de sigilo funcional e obstrução de investigação.
O ex-assessor acusa Alexandre de Moraes de manipular relatórios para justificar uma operação contra empresários próximos a Jair Bolsonaro em 2022, alegação negada pelo ministro.
Atualmente foragido na Itália, Tagliaferro teve pedido de extradição feito por Moraes e suas contas bancárias bloqueadas por determinação judicial. Ele tem se posicionado publicamente contra o ministro, com apoio de aliados do ex-presidente.
Cassação de Carla Zambelli
Carla Zambelli está detida na Itália, aguardando a decisão sobre sua extradição para o Brasil. Ela foi condenada a dez anos de prisão pelo Supremo por invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o auxílio do hacker Walter Delgatti Neto. Além disso, os ministros ordenaram a perda de seu mandato parlamentar.
O processo de cassação tramita na CCJ da Câmara dos Deputados, que está colhendo depoimentos das testemunhas indicadas pela defesa.
Walter Delgatti confirmou em seu depoimento que agiu sob ordens diretas de Zambelli para invadir o sistema do CNJ. Ele declarou que, sem a deputada, não teria realizado invasões. Também afirmou que ela autorizou a inclusão de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes no sistema do CNJ. Este documento tinha o intuito de demonstrar vulnerabilidades no sistema e sustentar a tese de fraude nas eleições de 2018.