A Comissão Europeia anunciou a 19ª série de sanções contra a Rússia na última sexta-feira (19/9). A ação internacional tem como objetivo aumentar o isolamento econômico do país e cortar as fontes de receita usadas para manter os ataques e a invasão ao território ucraniano. O Metrópoles conversou com especialistas para entender as consequências desse conjunto de punições e se há possibilidade de o presidente russo, Vladimir Putin, recuar em relação às investidas na Ucrânia.
Se aprovado pelos países membros da União Europeia, será o 19º pacote de sanções. As restrições foram definidas após o maior ataque aéreo registrado na Ucrânia, com mais de 800 mísseis e drones lançados, resultando em duas mortes. Tatiana Squeff, professora de Direito Internacional da UFRGS, explica que as sanções têm a intenção de pressionar Putin a desistir das invasões na Ucrânia.
“O propósito do novo pacote de punições econômicas é fazer com que a Rússia mude sua postura em relação ao controle dos territórios ucranianos ocupados, que são um grande ponto de conflito nas negociações para uma possível paz. Em particular, o pacote visa combater as táticas que driblam as restrições à exportação de petróleo russo, como o uso de ‘navios fantasmas'”, esclareceu Tatiana.
O petróleo é uma das principais fontes de receita da Rússia para manter sua força econômica e financiar a guerra comprando equipamentos militares. Uma das sanções determina a proibição do uso de “embarcações fantasmas”, que são navios que navegam sem acionar sistemas de rastreamento, dificultando sua identificação e burlando as restrições internacionais.
Entre as medidas principais estão o veto à importação de gás natural liquefeito (GNL) da Rússia no mercado europeu, endurecimento nas regras para o uso de criptomoedas com o intuito de evitar sanções e o bloqueio de 118 navios da frota fantasma que transportam petróleo russo. Além disso, a UE planeja limitar o preço máximo do petróleo bruto russo a US$ 47,6.
Tatiana ressalta que as sanções ao GNL abrem caminho para o mercado interno europeu, que antes dependia do gás russo. O setor energético representa outro pilar da economia russa, respondendo por grande parte do PIB e das receitas de exportação.
“Essa ação está alinhada com a estratégia europeia de reduzir a dependência energética da Rússia, que vem diminuindo gradativamente a importação, sobretudo do gás, desde o inverno passado, quando a dependência era de cerca de 45%. Essas medidas têm tido efeitos perceptíveis, com o consumo europeu já na metade do que era antes”, destacou Tatiana.
Em vez de recuar, Putin tem buscado novos parceiros comerciais desde o início das sanções, que foram adotadas após a invasão russa em 2022. A Rússia aposta em negociações bilaterais com países como Turquia, China e Índia. Antes, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, pediu que a UE adotasse tarifas elevadas sobre a China devido às compras de petróleo russo, mas o pedido não foi atendido.
“A análise atual indica que essas sanções não necessariamente levarão a um recuo da Rússia, devido à sua estratégia de diversificar parcerias comerciais. Notavelmente, nenhum país da América Latina, África ou Oriente Médio aderiu às sanções contra a Rússia desde 2022”, observou Laura Marques, internacionalista pela Universidade Federal de Uberlândia.
Sem poder comercializar com a Europa, a Rússia busca ampliar acordos com América Latina, África e Oriente Médio. Apesar do mercado menor nesses continentes, o país tenta reforçar laços, principalmente com México e Brasil, após o impacto das sanções por conta da invasão da Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, celebrou nas redes sociais o pacote robusto de sanções adotado pela União Europeia. Em meio ao conflito e negociações estagnadas para cessar fogo, Zelensky vem fortalecendo alianças com países europeus para assegurar a defesa da Ucrânia, com apoio militar da Europa e da OTAN.
“Essa é uma medida importante que aumentará a pressão sobre a máquina de guerra russa e terá impactos concretos. Também destacamos o trabalho para criar um mecanismo que utilize os ativos russos congelados para apoiar a defesa e recuperação ucranianas”, afirmou Zelensky.
De acordo com o comunicado da UE anunciando as sanções, embora os esforços diplomáticos tenham sido contínuos, a Rússia tem intensificado suas ações agressivas, deixando como única alternativa a imposição de medidas punitivas.