JULIA CHAIB
FOLHAPRESS
O representante dos Estados Unidos para o comércio, Jamieson Greer, afirmou nesta quarta-feira (15) que as tarifas de 50% aplicadas ao Brasil são em grande parte motivadas por preocupações relacionadas ao respeito ao Estado de Direito no país, e por decisões do Judiciário que ele classifica como censura e ataques aos direitos humanos.
A declaração de Greer foi dada na véspera da reunião marcada entre o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e ele próprio.
Greer explicou que existem duas sobretaxas aplicadas ao Brasil: uma tarifa recíproca de 10%, que é padrão para todos os países, e uma adicional de 40%, que tem justificativa política. Atualmente, mais de 700 produtos estão excluídos dessa sobretaxa.
Ele declarou: “Há uma tarifa extra de 40% sobre o Brasil, que foi implementada sob uma emergência separada, relacionada a sérias preocupações sobre o Estado de Direito, censura e direitos humanos. Um juiz brasileiro assumiu autoridade para ordenar que empresas americanas se autocensurem, emitindo ordens secretas para controlar o fluxo de informações”. Ele não mencionou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, complementou afirmando que a tarifa tem caráter político. Ele mencionou preocupações quanto ao tratamento a opositores políticos no Brasil e à detenção ilegal de cidadãos americanos, fazendo referência à perseguição política sem citar nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O secretário também se referiu à detenção do ex-assessor do ex-presidente Donald Trump, Jason Miller, que foi mantido preso temporariamente para prestar depoimento durante uma visita ao Brasil em 2021.
Bolsonaristas expressaram ao governo americano a preocupação sobre mandados de prisão emitidos por Moraes contra a brasileira com cidadania americana, Flávia Magalhães.
Esta declaração de Greer ocorre em um momento de aparente melhora nas relações entre EUA e Brasil. Mauro Vieira está em Washington para a reunião e o deputado Eduardo Bolsonaro também permanece na capital americana para encontros no Departamento de Estado e na Casa Branca.
Eduardo Bolsonaro e seus aliados planejam pressionar o governo americano a solicitar que o Brasil conceda anistia a Bolsonaro e outros que são investigados por atos golpistas. No entanto, o governo brasileiro já declarou que essa pauta não é negociável e que as discussões serão restritas a questões comerciais.
Na semana anterior, o presidente Lula conversou por telefone com Trump, sem tocar em questões políticas ou mencionar Bolsonaro. Nesta quarta, Lula afirmou que o diálogo com o americano avançou para tratar de uma indústria petroquímica, não apenas química.