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sábado, 30/11/2024
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Etiópia tem Ano Novo marcado por combates, medo e inflação

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A Etiópia segue um calendário especial, composto de 13 meses e sete a oito anos atrás do calendário gregoriano. O Ano Novo cai todos os anos em 11 de setembro

(crédito: Amanuel Sileshi / AFP.

 

Normalmente, Tesfaye Hagos comemora o Ano Novo etíope presenteando sua esposa e filhas com vestidos de algodão bordados e sacrificando uma cabra para uma grande refeição com seus amigos.

Mas este ano, com a guerra deflagrada no norte do país, Hagos, natural do Tigré que mora na capital Adis Abeba, não quer comemorar.

“O Ano Novo está se aproximando, mas não tenho coragem. Vou ficar em casa e orar pela paz”, disse à AFP esta semana, alguns dias antes do Ano Novo, que é comemorado no sábado (11) na Etiópia, o segundo país mais populoso da África.

A Etiópia segue um calendário especial, composto de 13 meses e sete a oito anos atrás do calendário gregoriano. O Ano Novo cai todos os anos em 11 de setembro.

Para os etíopes, o sábado será o primeiro dia de 2014.

As celebrações são geralmente alegres, com cantos, danças e buquês de margaridas confeccionados pelas crianças.

Mas, este ano, as comemorações são ofuscadas pelo conflito que assola o norte do país há dez meses e seus consequentes problemas econômicos, especialmente uma inflação que ultrapassou 30% no mês passado para produtos alimentícios.

O primeiro-ministro Abiy Ahmed tenta mobilizar a população com a aproximação do feriado, com uma campanha nas redes sociais com o tema heroísmo e vitória.

Detenções

Para os nativos do Tigré, como Tesfaye, a vida mudou no espaço de um ano.

Em setembro passado, o partido no poder na região norte do Tigré, a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF), desafiou Abiy Ahmed ao organizar eleições locais – proibidas devido ao coronavírus -, anunciando uma vitória esmagadora no mesmo dia.

Essas eleições prejudicaram as já difíceis relações entre o primeiro-ministro e a TPLF.

Dois meses depois, Abiy enviou tropas ao Tigré contra a TPLF, que acusou de organizar ataques contra acampamentos do exército federal.

Milhares de pessoas morreram no conflito, também marcado por massacres de civis e estupros em massa.

Nos últimos meses, os combates se espalharam para as regiões vizinhas de Amhara e Afar.

Em Addis Abeba, Tesfaye foi demitido de seu emprego em um escritório do governo após uma década de serviço por ter doado dinheiro à TPLF.

As autoridades suspenderam mais de 80.000 empresas que “apoiam a TPLF” e revogaram as licenças de outras 500, segundo um assessor do ministério do Comércio esta semana.

O governo nega repressão étnica e afirma perseguir apenas apoiadores da TPLF, classificada como organização terrorista em maio passado.

Isto não tranquiliza os tigré, preocupados com as manifestações organizadas pelo governo que denuncia a TPLF como o “câncer da Etiópia” e apela à “destruição” da sua “junta”.

Preços disparam
Sentado em seu estande com bandeiras etíopes no grande mercado da capital, Shafi Mame tem as mesmas opiniões do governo.

“Vamos começar o ano com uma nova esperança (…) vamos perseguir e enterrar a junta”, diz.

Mas em outras partes do mercado, a inflação e o aumento dos preços da manteiga, do petróleo ou do café preocupam mais do que as vitórias militares.

“As festas estão chegando, mas não há clientes. As pessoas não têm dinheiro para comprar”, declara Mudin Ramatu, um vendedor de grãos e especiarias.

Os problemas de inflação, pré-conflito, foram exacerbados nos últimos meses.

Os combates perturbam o abastecimento e, como enfatizou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, esgotaram os cofres do Estado em quase US $ 1 bilhão.

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