As alterações climáticas causaram pelo menos 16,5 mil mortes na Europa entre os meses de junho e agosto, durante múltiplas ondas de calor que atravessaram o continente.
Esta descoberta é resultado de um estudo preliminar divulgado nesta quarta-feira (17/09) pelo Imperial College London e pela London School of Hygiene & Tropical Medicine, em parceria com cientistas do Instituto Meteorológico Real da Holanda e das universidades de Copenhague e Berna.
O levantamento considerou dados de 854 cidades, representando 30% da população europeia. As mortes são uma projeção baseada em modelos validados por pesquisas anteriores revisadas por pares.
Com base em dados históricos que mostram o impacto de altas temperaturas nas taxas de mortalidade, a equipe estimou aproximadamente 24,4 mil óbitos acima do esperado nessas cidades durante o período. Desses, quase 70% estão diretamente relacionados às mudanças climáticas, majoritariamente causadas pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento.
Segundo os pesquisadores, o aumento médio das temperaturas foi de 2,2 °C no verão europeu, com picos chegando a 3,6 °C.
“Pode parecer pouco, mas variações de poucos graus podem ser a diferença entre vida e morte para milhares de indivíduos”, destacou Clair Barnes, pesquisadora do Centro de Política Ambiental do Imperial College London.
Acredita-se que o número real de mortes seja maior, pois as causas geralmente são atribuídas a problemas cardíacos ou respiratórios.
“A maioria das mortes associadas ao calor não é oficialmente registrada. Frequentemente, pessoas morrem de doenças preexistentes — como problemas cardíacos, respiratórios ou renais — que são agravadas pelo calor intenso, mas o calor raramente aparece nos atestados de óbito”, explicam os estudiosos.
O verão europeu de 2023 foi o quarto mais quente já mensurado, com a Espanha passando pela onda de calor mais severa de sua história. O calor extremo também contribuiu para incêndios florestais em todo o continente, aumentando o número de vítimas.
Idosos são os mais afetados
Mesmo com subnotificação, algumas mortes diretamente relacionadas ao calor foram confirmadas, como a de um gari de 51 anos em Barcelona e de um trabalhador da construção civil de 47 anos em San Lazzaro di Savena, na Itália.
A pesquisa aponta que o calor extremo foi responsável por 4.597 mortes na Itália, 2.841 na Espanha, 1.477 na Alemanha, 1.444 na França, 1.147 no Reino Unido, 1.064 na Romênia, 808 na Grécia, 552 na Bulgária e 268 na Croácia.
Pessoas com 65 anos ou mais representaram 85% do excesso de mortalidade ligado ao calor, evidenciando que verões cada vez mais quentes serão mais perigosos para a população europeia envelhecida.
Cidades e ameaças futuras
Nas cidades, onde residem 70% dos europeus, as temperaturas podem ser de 4 °C a 6 °C superiores às áreas rurais. Os autores ressaltam que a transição para energias renováveis e a eliminação dos combustíveis fósseis são cruciais para enfrentar o problema.
“Políticas de adaptação ao calor são essenciais, incluindo flexibilização de horários de trabalho, ajuste do calendário escolar, expansão de áreas verdes urbanas, uso de ar-condicionado e aprimoramento da infraestrutura de saúde pública”, disse o professor adjunto da London School of Hygiene & Tropical Medicine, Malcolm Mistry.
No entanto, Mistry adverte que esses esforços terão limitações se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas rapidamente. “Sem essa redução urgente, as intervenções terão impacto limitado na mitigação dos riscos do aquecimento global de origem humana, afetando não só a saúde, mas também setores como a agricultura.”