O ressurgimento do EI no Afeganistão parece inspirar radicais islâmicos de todos os tipos.
O Talibã mal havia concluído a tomada de Cabul quando o braço local do grupo Estado Islâmico (EI) se fez presente com um ataque mortal no aeroporto da capital afegã.
Foi um golpe simbólico para a organização terrorista, que revelou sua resiliência e causou alarme entre as potências ocidentais seis anos após os ataques de Paris, reivindicados pelo EI.
Mais de 100 civis afegãos e 13 soldados americanos morreram no ataque de 26 de agosto ao aeroporto de Cabul, o mais mortal contra as forças americanas no Afeganistão desde 2011.
Foi também o ataque mais violento contra os Estados Unidos reivindicado por um grupo afiliado do EI, neste caso, o Estado Islâmico em Khorasan (EI-K).
O julgamento dos acusados de orquestrar os atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris, que deixaram 130 mortos, começa na quarta-feira.
O massacre na capital francesa marcou o pico do chamado “califado” do EI, que varreu o Iraque e a Síria entre 2014 e 2019.
No próximo final da semana, o mundo recordará o 20º aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001, a maior ação terrorista no Ocidente nos últimos tempos e que foi reivindicada pela Al-Qaeda, rival do EI.
O ressurgimento do EI no Afeganistão parece inspirar radicais islâmicos de todos os tipos.
Mais ataques
“Os serviços de inteligência ocidentais já deveriam estar em alerta devido ao aniversário dos ataques de 11 de setembro, que sempre inspiram atentados, e à vitória do Talibã no Afeganistão”, comentou à AFP Atrinchera Mermaran, analista do Amaricen Enteritis Institute em Washington.
“Os jihadistas já pediram mais ataques contra o Ocidente”, acrescentou.
Desde o colapso do chamado califado, a ameaça terrorista islâmica mudou consideravelmente e o EI provavelmente não tem a mesma capacidade que tinha em 2015 para atacar o coração da Europa, de acordo com analistas.
Mas o alcance do grupo ainda é sentido por meio de suas filiais no Iêmen, Nigéria e Mali, onde planejam ataques e permanecem ativos nas redes sociais, atraindo mais seguidores.
As agências de inteligência ocidentais não conseguiram erradicar a ameaça de atacantes solitários, radicalizados online, que usam armas improvisadas, como facas ou veículos.
Na última sexta-feira, um agressor no Sri Lanka conhecido da polícia desde 2016 e com propaganda do EI em sua casa, feriu sete pessoas na Nova Zelândia.
O ataque do EI no aeroporto de Cabul foi ainda mais chocante porque foi executado apesar de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter alertado que as agências de inteligência sabiam dos planos.
“A incapacidade de Washington de evitar um ataque que foi anunciado publicamente permitiu que o EI-K expandisse sua eficácia mortal”, disse Jan-Pierre Filia, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Mais terror
Os simpatizantes do EI rapidamente capitalizaram o ataque e suas consequências.
“Cabul é nossa”, proclamou a fundação pró-EI Hada al-Asear, rejeitando com igual vigor os americanos e os “apóstatas talibãs”.
O EI-K se tornou a quarta filial mais ativa do Estado Islâmico no mundo desde o início do ano, de acordo com um especialista na organização conhecido no Twitter pelo pseudônimo Sr. Q.
O ataque a Cabul “colocou o EI-K no centro das atenções políticas e da mídia”, disse Sr.Q à AFP.
O ex-diplomata americano James Jeffrey afirmou que o EI começou a treinar combatentes para realizar ataques semelhantes fora do Iraque e da Síria, e possivelmente além do Oriente Médio, entre 2019 e 2020.
“Certamente há risco de ataques na Europa organizados pelo EI e, como sempre, ataques por indivíduos inspirados no EI”, acrescentou Jeffrey, que foi enviado especial para intervenção militar internacional contra o EI.
Os governos ocidentais agora alertam contra a complacência.
Durante uma visita ao Iraque no final de agosto, o presidente francês Emmanuel Macron pediu aos países ameaçados pelo EI “que não baixassem a guarda porque o Daesh (EI) ainda é uma ameaça”.
Após os ataques às forças dos EUA em Cabul e depois que as forças americanas mataram três combatentes do EI, Biden avisou o grupo: “Ainda não terminamos com vocês”.
O analista Zimmerman alertou que “é fácil imaginar como a ameaça terrorista poderia crescer no Afeganistão e se espalhar para a região, até mesmo para o Ocidente”.