Mesmo enfrentando os desafios habituais do ensino de cartografia no Brasil, escolas públicas do Distrito Federal têm ganhado destaque nacional ao incentivar o protagonismo dos alunos na Olimpíada Brasileira de Cartografia (Obrac) 2025. Após a primeira fase da competição, duas escolas públicas — o Centro de Ensino Fundamental (CEF) 04 de Ceilândia e o CEF Arapoanga, de Planaltina — seguiram para a segunda etapa, que ocorre até 12 de julho.
A mobilização é liderada pela professora Vanessa Cristina Vasconcelos, que atua há 11 anos na rede pública. Com atenção ao potencial dos estudantes, ela vê a cartografia como uma ferramenta poderosa para descobertas e transformações. “Eu sempre introduzo cartografia no início do ano, pois é um tema com várias lacunas. Muitos alunos se destacam, mas nem todos se sentem motivados a se aprofundar”, comenta.
Com essa percepção, a professora inscreveu sua turma na Obrac. Ao todo, doze estudantes de três escolas do DF participaram da primeira fase. Agora, os selecionados estão empenhados na criação de um mapa digital sobre o racismo ambiental no Distrito Federal, abordando temas como desigualdade no acesso à água potável, falta de saneamento básico e efeitos das mudanças climáticas.
Talentos em destaque
A trajetória desses jovens mostra como a educação pode despertar interesses muitas vezes adormecidos. É o caso de Israel Thyago, 14 anos, que descobriu na geografia uma paixão antiga. “Desde criança, assistia a vídeos sobre o mundo, gostava de conhecer o planeta e decorar nomes de cidades. Eu usava o Google Maps para procurar lugares interessantes”, recorda.
Davi Souza, 15 anos, também demonstra grande interesse por mapas. “Tenho dois globos terrestres em casa. Sempre gostei de localizar países e cidades”, afirma, animado com a chance de ampliar seus conhecimentos.
A participação feminina tem destaque com Maysa Xavier, 14 anos, que reflete sobre a representatividade: “Não penso que as meninas sejam menos capazes ou interessadas. Acredito que recebam menos incentivo”, diz a aluna que já participou de olimpíadas de história e matemática.
Uriel Lima Cruz, também de 14 anos, completa a equipe com uma visão humanista da geografia. “Sempre gostei dessa disciplina, pois ela aborda a história da humanidade, que é fundamental”, fala o jovem, participando pela primeira vez de uma olimpíada científica.
Formação cidadã e inclusão social
A Olímpiada Brasileira de Cartografia vai além da competição, oferecendo reais oportunidades de transformação social. A iniciativa está vinculada ao Programa de Bolsa de Iniciação Científica Júnior do CNPq/MCTI e ao programa Auxílio Brasil. As duas escolas com melhor desempenho na etapa final garantem bolsas a oito alunos: R$ 1.000 em parcela única para as famílias e R$ 1.200 em mensalidades para os estudantes.
A subsecretária de Educação Básica do Distrito Federal, Iêdes Soares Braga, destaca a relevância da participação: “A presença das escolas públicas na Obrac mostra o potencial extraordinário dos nossos alunos e o comprometimento dos professores”, afirmou.
Com esse novo desafio, os estudantes estão empenhados em transformar dados em consciência crítica, ciência em justiça social e mapas em ferramentas de mudança.