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terça-feira, 24/06/2025




Erros seguidos podem ter causado a morte de Juliana Marins, dizem montanhistas do Brasil

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Luiza Pastor
São Paulo, SP (FolhaPress)

A tragédia envolvendo a brasileira Juliana Marins, 26 anos, tomou conta das conversas entre montanhistas brasileiros desde o desaparecimento da publicitária de Niterói (RJ) na trilha do vulcão Rinjani (3.726 metros), na Indonésia, na sexta-feira (20). Apesar da ausência de informações completas para um panorama geral, especialistas consultados pelo jornal destacam uma sequência de falhas durante toda a expedição, começando pelo abandono presumido da jovem por um grupo que planejava passar dois dias e uma noite na trilha, classificada no site do parque como exigente.

De acordo com Adilson Teixeira da Silva, fundador do Clube de Aventura Atma, que organiza expedições para os principais picos do Brasil, ainda que seja incerto se a causa do falecimento foi a queda ou fatores como hipotermia, é inadmissível que Juliana tenha sido deixada para trás sem um guia responsável pela retaguarda, cuja função é monitorar e alertar sobre incidentes como quedas e desaparecimentos.

O especialista também questiona a ausência de um kit básico de emergência com itens como manta térmica, rastreador e agasalho, essenciais para trilhas desse perfil, caso a morte não tenha ocorrido imediatamente no impacto.

“Em trilhas desse tipo, o guia deve avaliar a capacidade física e experiência do participante, garantir que ele possua equipamentos adequados, e o organizador precisa disponibilizar um número de guias compatível com o grupo, todos preparados para emergências e capazes de acionar o resgate”, explica.

O montanhista Rodrigo Rodriguez destaca a ausência evidente de “um plano de resgate acionado nas primeiras horas, mesmo em condições desfavoráveis”, além da falta de “comunicação clara entre guia, resgate, familiares, embaixadas e autoridades”, o que gerou informações contraditórias. Ele também considera “impensável a ausência de drones para buscas pelas equipes de resgate”.

“Se não fosse pelos turistas espanhóis que registraram imagens do drone, o resgate teria sido ainda mais difícil. Equipamentos adequados permitiriam agilidade e precisão nas operações”, acrescenta.

Relatos da BBC indicam que, nos últimos cinco anos, seis mortes ocorreram nas trilhas do vulcão. A qualificação dos guias que conduzem aventureiros por terrenos íngremes e escorregadios, sem proteções como cabos, permanece incerta. Evidencia-se que o resgate só foi possível graças à mobilização voluntária de montanhistas locais liderados por Agam Rinjani, revelando a carência de uma estrutura adequada para emergências em uma região sujeita a ventos fortes, chuvas repentinas e temperaturas que chegam a -4°C. Fotos aéreas mostram que Juliana não estava vestida para enfrentar o frio intenso, erro grave que poderia ter sido evitado com orientações adequadas.

Importante notar que o aumento de acidentes coincide com o período da pandemia de Covid-19, quando o turismo de aventura cresceu entre pessoas sem experiência, atraídas por locais afastados de aglomerações urbanas.

Esse isolamento impulsionou uma indústria que nem sempre está preparada para garantir segurança básica, resultando em muitos incidentes não fortuitos em diversas modalidades.

Davi Ribeiro, que retornou recentemente de uma expedição ao monte Caburaí em Roraima, alerta para a falta de cultura e humildade no montanhismo. Ele destaca a deficiência na formação para esportes outdoor, enfatizando que escalar montanhas vai muito além de simplesmente caminhar com uma mochila.

Embora seja tentador criticar a ausência de grupos de resgate locais similares aos que atuam em pontos famosos do Brasil, Ribeiro observa uma febre crescente de montanhismo amador e irresponsável, com guias pouco capacitados levando iniciantes a situações perigosas que frequentemente demandam acionamento de bombeiros.

Há também uma corrente de montanhistas que romantiza riscos evitáveis como parte da aventura, se opõe a regulamentações e sustenta que cada um deve enfrentar seus desafios sem prestar contas, aumentando a probabilidade de novas tragédias.




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