Em busca de concluir um plano de paz eficaz para o conflito na Ucrânia, o representante especial de Donald Trump, Steve Witkoff, tem uma reunião com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nesta terça-feira (2/12). O encontro acontece durante uma fase renovada de negociações diplomáticas entre Washington, Kiev e o Kremlin, que pretendem avançar depois de semanas de discussões difíceis e alegações de corrupção no governo ucraniano.
O porta-voz Dmitry Peskov confirmou que Putin receberá Witkoff no período da tarde, horário local. A expectativa é que o bilionário, acompanhado do assessor informal Jared Kushner, apresente a versão atualizada do plano de paz revisado em Genebra e Flórida junto a autoridades ucranianas e americanas.
Discussões complexas e desconfianças
O plano inicial de paz, que continha 28 itens, foi divulgado no mês passado e criticado por favorecer a Rússia. Desde então, o documento foi reduzido para cerca de 20 propostas consideradas mais favoráveis à Ucrânia, conforme negociadores.
No entanto, ainda é incerto se Putin aceitará essas modificações e se Kiev concordará com concessões territoriais e restrições militares sugeridas pelos Estados Unidos.
As conversas na Flórida no domingo (30/11), que contaram com a participação de Marco Rubio, Witkoff, Kushner e a nova equipe ucraniana liderada por Rustem Umerov, foram descritas como difíceis, produtivas e complicadas. Entre os temas tratados estavam garantias de segurança, eleições na Ucrânia, cronograma militar e possíveis ajustes territoriais.
Rubio comentou que ainda há muito a ser feito, enquanto Umerov expressou gratidão aos Estados Unidos pelo apoio, reforçando pedidos do Trump para que Kiev demonstre mais reconhecimento.
Propostas em conflito
As negociações entre Rússia, EUA e Ucrânia ocorrem em meio a planos de paz controversos.
- Proposta americana: reconhece o controle russo sobre Crimea, Donetsk e Lugansk; mantém as posições atuais em Kherson e Zaporíjia; e exige que a Ucrânia abandone seus planos de entrada na Otan.
- Proposta europeia: não reconhece a soberania russa sobre os territórios ocupados e não impede a entrada da Ucrânia na Otan.
Putin afirmou que o documento americano pode servir de base, mas disse que não recebeu a versão atualizada produzida em Genebra.
Kiev rejeita qualquer concessão territorial, enquanto países europeus buscam manter uma posição unificada contra acordos que legitimar a ocupação.
Corrupção dificulta acordo
Após a reunião, Trump afirmou que a Ucrânia enfrenta desafios sérios, agravados por uma situação contínua de corrupção no país. Recentes escândalos, como suspeitas de propinas na empresa nuclear Energoatom, buscas na residência do ex-chefe de gabinete Andriy Yermak e denúncias ligadas a compras militares, reforçam a instabilidade política.
Para os Estados Unidos, essa instabilidade impede a negociação de um acordo de paz. Para Moscou, é um argumento para questionar a legitimidade do governo do presidente Volodymyr Zelensky, cujo mandato está vigente sob lei marcial.
Ligação telefônica controversa
O encontro ocorre após a divulgação de uma conversa entre Witkoff e Yuri Ushakov, assessor de Putin, que causou desconforto em Washington e em Kiev. Durante a chamada, Witkoff teria sugerido como Moscou deveria se posicionar diante de Trump, incluindo elogios a um cessar-fogo em Gaza.
Essa ligação antecedeu uma conversa telefônica entre Trump e Putin, considerada franca e produtiva pelo Kremlin, mas uma reunião tensa entre Trump e Zelensky, na qual o ex-presidente americano insistiu em concessões territoriais.
Republicanos criticaram Witkoff, acusando-o de estar sob influência russa, enquanto Trump minimizou a polêmica e confirmou que seu enviado viajará a Moscou nos próximos dias.
Zelensky busca apoio europeu
Na segunda-feira (1º/12), o presidente Volodymyr Zelensky se reuniu em Paris com o presidente francês Emmanuel Macron. O foco da reunião foi garantir um acordo de paz duradouro e ajustar o plano americano aos interesses da Ucrânia.
Também houve uma conferência telefônica conjunta entre Macron, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, Witkoff, Umerov e líderes europeus alinhando apoio militar e pressão diplomática contra Moscou.
Macron destacou que novas sanções devem impactar significativamente a economia russa nas próximas semanas.
Rússia relata avanços no leste da Ucrânia
No domingo (30/11), Putin recebeu informações do Estado-Maior que suas tropas tomaram o controle de Pokrovsk, um ponto logístico estratégico no leste da Ucrânia, e de Vovchansk, na região de Kharkiv.
Pokrovsk é crucial para o transporte no leste do país, conectando ferrovias e rodovias vitais para abastecer as linhas de defesa e movimentar unidades militares, sustentando sua importância tática e simbólica para ambos os lados.
Moscou também informou que iniciou operações em Huliaipole e avançou em direções estratégicas na região leste. Putin elogiou o progresso das operações e ordenou reforço na logística visando o inverno.
A Ucrânia nega que Pokrovsk e Kupyansk tenham sido inteiramente capturadas e acusa Moscou de exagerar suas conquistas, embora reconheça desafios como a escassez de tropas, desgaste nas defesas e aumento da resistência à mobilização.

