Lígia, personagem interpretada por Dira Paes na novela Três Graças, enfrenta a hipertensão arterial pulmonar (HAP), uma condição rara que eleva a pressão nas artérias dos pulmões. Mas o que causa essa situação e como ela se diferencia da hipertensão comum?
Segundo Marcelo Jacó, coordenador da Comissão Científica de Circulação Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a hipertensão pulmonar é semelhante à hipertensão essencial, porém ocorre unicamente nos vasos pulmonares, não nas artérias do corpo todo.
Normalmente, a pressão dentro das artérias pulmonares deve estar abaixo de 20 mmHg. Se ultrapassar esse valor, já é um sinal de aumento da pressão, diferente da hipertensão sistêmica. São sistemas separados e diferentes.
Sintomas
O principal sintoma da hipertensão arterial pulmonar é a falta de ar, conhecida como dispneia. No começo, aparece durante esforços, como subir escadas, que antes eram feitos com facilidade, tornando a respiração mais difícil.
Conforme a doença avança, a falta de ar pode ocorrer até em atividades leves, como tomar banho. Outros sintomas comuns incluem dores no peito semelhantes às do infarto, desmaios e retenção de líquidos.
Origens da condição
Jacó explica que existem cinco grupos de hipertensão pulmonar. Os mais frequentes são os secundários e os do grupo 1.
Os casos secundários estão associados a outras doenças graves, como problemas cardíacos avançados ou condições pulmonares severas, como enfisema ou fibrose. O tratamento foca a doença principal que provocou a hipertensão.
Já a hipertensão do grupo 1 afeta diretamente os vasos pulmonares e pode surgir por causas variadas, como a idiopática (sem causa conhecida), formas hereditárias causadas por mutações genéticas, e também por doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide.
Um tipo que está se tornando mais frequente é a HAP do grupo 4, que acontece após embolia pulmonar — bloqueio em artérias dos pulmões, normalmente por coágulos. A maioria dos casos de embolia é tratada com sucesso, mas entre 3% a 5% dos pacientes desenvolvem obstrução crônica, levando à hipertensão pulmonar, semelhante a um entupimento.
Diagnóstico
Por ser rara, a hipertensão pulmonar pode demorar para ser diagnosticada. A falta de ar é comum a várias doenças, então inicialmente são consideradas condições mais frequentes, como asma, bronquite e insuficiência cardíaca, antes de pensar em hipertensão pulmonar.
O diagnóstico ocorre em duas fases. Primeiro, a suspeita clínica com base nos sintomas, seguida de um ecocardiograma, exame que avalia o coração e estima a pressão nas artérias pulmonares.
Para confirmar a doença, realiza-se o cateterismo das câmaras direitas do coração, considerado o exame padrão ouro, pois mede diretamente a pressão pulmonar e confirma a hipertensão.
Tratamento
O tratamento depende da causa da HAP. Para os casos secundários, foca-se na doença que provocou a hipertensão.
Nos casos do grupo 1, o tratamento é feito com medicamentos que dilatam os vasos sanguíneos, diminuindo a pressão nas artérias pulmonares. Quando os remédios não são eficazes, o transplante de pulmão pode ser uma opção, embora seja um procedimento complexo com riscos altos.
Estadão Conteúdo
