A lipoproteína (a), conhecida como Lp(a), é uma partícula que transporta colesterol e pode se acumular nas artérias de forma semelhante ao LDL, o colesterol normalmente considerado ruim. Durante muito tempo, essa partícula foi pouco reconhecida na prevenção, mas pesquisas recentes mostram que ela eleva o risco de doenças cardíacas e não responde bem aos tratamentos convencionais.
A Lp(a) é fabricada no fígado, com sua produção sendo mais influenciada pela genética do que por hábitos de vida, ao contrário dos outros tipos de colesterol. Ter níveis elevados dessa lipoproteína está relacionado a um maior risco de problemas cardiovasculares, como infarto, AVC e obstrução da válvula aórtica. Aproximadamente uma em cada cinco pessoas tem níveis de Lp(a) acima do recomendado, de 50 mg/dL.
Elias Pimentel, cardiologista, destacou durante o Congresso Internacional de Cardiologia da Rede D’Or 2025 no Rio de Janeiro que, embora a gravidade exata relacionada à quantidade da Lp(a) ainda seja estudada, os riscos são evidentes. Ele ressaltou que por muitos anos a Lp(a) não foi incluída nos exames de rotina e o desenvolvimento de tratamentos eficazes está em andamento. Os medicamentos atuais oferecem resultados modestos, mas sem cuidado, este colesterol pode ter consequências graves.
Importância da testagem e desafio no diagnóstico
Apesar de a concentração elevada de Lp(a) aumentar substancialmente o risco cardiovascular, sua detecção é rara e não está inclusa nos exames tradicionais de colesterol. A testagem global quando se avalia o colesterol total é inferior a 5%. Além disso, a Lp(a) não apresenta sintomas perceptíveis, sendo silenciosa.
Elias Pimentel comenta que, mesmo com recomendações para testes preventivos, especialmente em quem tem histórico familiar de doenças precoces do coração, a ausência de diretrizes claras dificulta os diagnósticos. Existe um forte componente hereditário, e indivíduos aparentemente saudáveis podem apresentar níveis três vezes superiores ao limite tolerado.
Tratamentos em desenvolvimento
Não há, atualmente, remédios aprovados que reduzam efetivamente a Lp(a). Ao contrário do LDL, esta molécula não responde às estatinas nem a modificações no estilo de vida. Mesmo controlando o LDL, o risco cardiovascular pode continuar alto em quem tem níveis elevados de Lp(a).
Dois medicamentos estão em pesquisa: o pelacarsen, da Novartis, que atua no fígado para bloquear a produção da apolipoproteína(a), está em fase final de testes clínicos; e o muvalaplin, da Lilly, droga oral que demonstrou reduzir a Lp(a) em até 85,8% em ensaios de fase 2, apresentando segurança, mas ainda requer avaliações em grupos maiores.
Enquanto tratamentos específicos não são aprovados, o manejo do risco cardiovascular deve focar em fatores controláveis. É fundamental manter a pressão arterial, o colesterol LDL e o diabetes sob controle para quem possui Lp(a) alta, avaliando o risco total do paciente de forma integrada.