Temos em torno de um possível calote do país geraram aversão a riscos e prejudicaram bitcoin e outros ativos, que agora mostram recuperação
O bitcoin e outras criptomoedas operam em alta nesta segunda-feira, 29, apesar da dificuldade de superarem um movimento de lateralidade observado nas últimas semanas. A principal novidade para os investidores é o avanço nas negociações sobre o teto de dívida dos Estados Unidos, o que pode evitar um calote por parte do país que teria fortes impactos negativos para o mercado.
De acordo com dados da plataforma CoinGecko, o bitcoin opera em alta de 2,3% nas últimas 24 horas, cotado a US$ 27.845. O ether sobe 2,9% no mesmo período, a US$ 1.893. O setor como um todo registra ganhos de 2,3%. A Sui, o Lido e a Quant estão entre os destaques de alta no mercado cripto – avançando mais de 6% cada.
Durante o fim de semana, o governo dos Estados Unidos anunciou que chegou a um acordo com o líder da oposição para que o país consiga aprovar um projeto que eleva o seu teto de dívida. A medida precisa ser aprovada antes do dia 5 de junho para evitar um “default”, que ocorre quando o governo não tem dinheiro para cumprir suas obrigações de pagamento.
Ayron Ferreira, analista-chefe da Titanium Asset, explica que “é provável que um acordo seja realizado muito perto do prazo final, mas essa demora tem feito até mesmo algumas agência de classificação de risco considerarem reavaliar a nota de crédito dos Estados Unidos”.
Por isso, o tema é “bem sério”, o que tem gerado uma “reação à altura” por parte do mercado: “Um calote traria consequências graves para os Estados Unidos, como a dificuldade em se financiar e elevação ainda maior nas taxas de juros”. Essa possibilidade gerou uma aversão a riscos por parte dos investidores, reduzindo fluxos de investimentos em ativos considerados mais arriscados, caso das criptomoedas.
Para Lucas Costa, analista do BTG Pactual, a conclusão das discussões nos Estados Unidos “pode animar os mercados de risco”, ajudando as criptomoedas a ter algum grau de valorização. Entretanto, o bitcoin segue com dificuldade para superar níveis de preço de resistência – atualmente na casa dos US$ 28.200, segundo o analista.
“A expectativa é de correções ou lateralidade no curto prazo, enquanto o preço [do bitcoin] não romper o topo anterior em US$ 30 mil”, explica Costa. Nesse sentido, mesmo uma euforia no mercado com a conclusão das discussões sobre o teto da dívida pode não ser suficiente para atrair investidores a ponto de fazer a criptomoeda superar essa barreira.
Ao mesmo tempo, Ferreira observa que as incertezas em torno da situação nos EUA não foram totalmente negativas para o bitcoin. “Uma pesquisa recente da Bloomberg mostrou que o bitcoin ficou na terceira posição, à frente do dólar, do yen e do franco suíço, entre os ativos escolhidos pelos participantes ao serem perguntados sobre qual ativo escolheriam em caso de um default dos EUA”.
“Nas duas primeiras posições ficaram o ouro e as Treasuries [títulos de dívida emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos]. É sem dúvida uma época interessante e importante para a adoção e reconhecimento do bitcoin como ativo de proteção e alternativa ao sistema financeiro tradicional”, afirma o analista, indicando que a tese de que a criptomoeda pode ser uma reserva de valor tem ganhado espaço no mercado.
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Tasso Lago, fundador da Financial Move, destaca que “subir o teto da dívida é um fator que fortalece o bitcoin porque a tese central dele é justamente ligada a uma impressão de dinheiro ‘descontrolado’, como um aumento de gastos com uma dívida muito grande, de US$ 31,5 trilhões”, se referindo ao novo nível de dívida dos EUA com o acordo.
Quanto o bitcoin subiu em 2023?
Até o dia 29 de maio, o bitcoin acumula uma valorização de mais de 60% em 2023, mas atualmente enfrenta uma lateralização, com seu preço alternando na faixa entre US$ 27 mil e US$ 29 mil. Para especialistas, essa valorização está ligada à mudança de perspectiva do mercado quanto ao ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. Os investidores passaram a projetar uma postura mais branda do Federal Reserve — reforçada após as recentes falências bancárias —, com altas menores e possíveis cortes já no segundo semestre.
O cenário favorece ativos considerados mais arriscados, caso das criptos, já que torna a renda fixa americana menos atrativa e reduz temores sobre uma possível recessão na maior economia do mundo. Além disso, outros analistas apontam mais motivos que podem estar ajudando o mercado cripto.
Especificamente no caso do bitcoin, especialistas acreditam que a crise no sistema bancário reforça a tese da criptomoeda, que surgiu como uma alternativa descentralizada no sistema financeiro, e por isso está atraindo investidores. Outros apontam uma possível mudança de visão no mercado, com a ideia de que o bitcoin seria um “ouro digital” ganhando mais adeptos devido a algumas características da criptomoeda, em especial sua oferta finita e limitada, que lhe confere um caráter deflacionário.