Daniel Xavier
daniel.xavier@grupojbr.com
No coração do Gama, Distrito Federal, uma praça que por muitos anos foi apenas um ponto comum no bairro, voltou a ganhar vida de forma vibrante. Conhecida como “Praça do Sandubas”, ela reviveu seu passado inesquecível em um emocionante reencontro de amigos que passaram suas juventudes ali, entre as décadas de 1970 e 1990.
Mais que uma simples reunião, o evento “SandubaS25 – O reencontro” realizado no domingo, 22 de junho, transformou-se em uma homenagem à memória afetiva de toda uma geração. Histórias de amizade, músicas marcantes da época, amores juvenis e a perseverança se uniram a risadas e abraços calorosos de pessoas que ficaram décadas sem se encontrar e, ao se reunirem, parecia que o tempo não passou. A manifestação reuniu mais de mil participantes.
Créditos: Daniel Xavier
A iniciativa surgiu de um bate-papo entre Ricardo Gonzaga Patrão, especialista em saúde, e seu amigo de longa data Sanderson Rabelo, empresário. Ambos frequentadores da praça durante a juventude, mantinham na memória os domingos repletos de flertes, conversas e música boa.
Créditos: Daniel Xavier
A nostalgia tornou-se ação prática: criaram grupos no WhatsApp, recuperaram contatos e começaram a estruturar o evento. Em semanas, conseguiram localizar cerca de 90% do grupo original. O que parecia apenas um plano ganhou vida, com o suporte de comerciantes locais como Divina Grill, Max Burger e Casa das Massas, estabelecimentos na antiga praça do Sandubas. “Ver o pessoal chegando, conversando, sorrindo… é a confirmação de que tudo valeu a pena. A missão foi cumprida”, emocionou-se Ricardo. Com 52 anos, falava com o vigor de um jovem de 17 anos. “Esse reencontro é mais do que só uma festa. É sobre memória, sentido de pertencimento. É fortalecer os vínculos”, destacou Patrão.
Créditos: Daniel Xavier
Ricardo não esteve só nesta jornada. O reencontro contou com o suporte de familiares e amigos da infância: seu irmão Roberto Andrade, o primo Luiz Henrique, os amigos Eugênio Valdivino, José Wilson, Júlio Eduardo e outros presentes no encontro. Patrão relata que já havia promovido outras reuniões com até 200 pessoas em residências de amigos, mas esta edição se diferenciou por acontecer num espaço público e ampliar o círculo de amigos.
Créditos: Daniel Xavier
Sanderson Rabelo, 49 anos, viveu os últimos anos no Canadá. Antes de regressar ao Brasil, onde morou quase uma década, fez questão de estar presente no reencontro. “Foi aqui que conheci minha esposa, Lisandra. Começamos a namorar em 1992, quando eu tinha 16 anos. Casamos em 2003 e temos dois filhos. Estar aqui é reviver tudo isso”, salientou. Sua volta temporária ao Gama foi marcada tanto pela celebração quanto pela despedida. “Viver essa emoção com os amigos de infância, antes de retornar ao Canadá, é um presente. Os laços criados aqui são para sempre”.
A praça, os encontros e os domingos sem pressa
Créditos: Daniel Xavier
Luiz Henrique, 50 anos, primo de Ricardo, conta que aquele local marcou a infância de todos. “Toda semana vínhamos para cá. Bicicletas, rampas, papos descontraídos… esse lugar foi muito importante para nossa juventude”, revelou. “Tentamos organizar algo fechado antes, mas não deu certo. Daí surgiu a ideia de usar um espaço público, amplo e acolhedor – e foi a escolha ideal”.
José Wilson de Paulo, 53 anos, comerciante no Gama, também se emocionou. Recorda com carinho dos tempos em que, após a missa, seguia direto à praça. “Era nosso quintal. Jogávamos bola, vôlei, encontrávamos os amigos. Cada um seguiu seu caminho, mas hoje estamos todos juntos outra vez. Isso toca o coração”, declarou.
Créditos: Daniel Xavier
Eugênio Valdivino, natural do Gama, reviveu os tempos dourados. “Brasília nos anos 80 era bastante engajada. Participávamos do grêmio estudantil, discutíamos teatro, política e música. Tudo era intenso e muito autêntico. Hoje, sinto que isso se perdeu um pouco”, comentou.
Do dindin ao diploma
Créditos: Daniel Xavier
Amauri Andrade, 51 anos, trilhou um caminho de sucesso desde os dias na praça. “Vendia dindin e cocada na rodoviária. Hoje sou advogado criminalista e professor de Direito Penal. Tudo começou aqui, na praça do Sandubas. Após a missa, íamos paquerar. Muitos casais nasceram aqui. Era uma fase simples, mas verdadeira”.
Entre as lembranças mais queridas está a Hamburgueria Sandubas. “Os sanduíches tinham nomes de celebridades: Fafá de Belém, Tony Ramos, Maitê Proença… nos sentíamos especiais. Era o nosso ponto de encontro”, recorda com risadas.
O som que embalava os domingos
A música que marcou a juventude também esteve presente. Ninguém melhor que Roberto Andrade, irmão de Ricardo, para relembrar essa memória musical. Aos 59 anos, ele foi o primeiro DJ da praça em 1987. “Trabalhava em uma boate chamada Românticos Bar e aos domingos de manhã montava o som aqui. Ficava até 10 da noite, tocando rock nacional, freestyle, Pet Shop Boys, A-ha. Era incrível”, contou Roberto com carinho.
Hoje, Andrade segue como DJ e locutor de rádio, além de trabalhar em um órgão governamental. “Aqui tem gente que não via há mais de 15 anos. É emocionante ver as conquistas de todos, as transformações das vidas”, refletiu.
“Hoje é nostalgia, mas também resistência”
Créditos: Daniel Xavier
Jandira Gomes, administradora de hotelaria no Gama, 48 anos, também participou. “Passei minha adolescência aqui. Soube do reencontro hoje mesmo, mas quis vir com uma amiga que celebra o aniversário do marido. Voltar para rever os amigos, dançar, sorrir e recordar”, disse. Para ela, eventos assim têm um valor que ultrapassa a saudade. “Vivemos uma época de distanciamento. Tento ensinar meu filho, de 23 anos, os valores de um tempo com mais leveza, respeito e boa música. É difícil, mas persistimos”, confessou.
No fim, “SandubaS25 – O reencontro” foi exatamente o que se propôs: uma viagem coletiva ao passado, com os pés firmes no presente. As histórias, diversas e sinceras, demonstram que reunir-se para lembrar é algo poderoso. Não cabe apenas nas fotos antigas ou nas canções de um tempo que não volta. “Se conseguirmos preservar isso, mesmo que anualmente, já terá valido a pena”, concluiu Ricardo Patrão. “Ver a praça cheia, com risos ecoando como antes, é fácil acreditar que esse encontro foi um sucesso e pode inspirar outras pessoas”, finalizou.