A Polícia Federal investigou e descobriu que cerca de R$ 91,6 milhões em recursos públicos federais destinados a municípios no Ceará foram desviados para um grupo de empresas falsas. Essas empresas teriam sido criadas pelo prefeito Carlos Alberto Queiroz, conhecido como Bebeto do Choró, que é apontado como parceiro próximo do deputado Júnior Mano (PSB-CE) em um esquema de desvio de verbas parlamentares.
Autoridades tentam localizar Bebeto, que está foragido há mais de seis meses. O gabinete de Júnior Mano afirmou que ele não participa nem administra licitações, despesas ou contratos públicos.
A investigação da PF, baseada em análise de contas bancárias e cruzamento de dados com bancos e o Tribunal de Contas do Ceará, revelou que essas empresas fictícias movimentaram R$ 455 milhões entre 2023 e 2025, sendo cerca de 20% desses valores provenientes de verbas federais repassadas a municípios do estado.
Este caso faz parte da Operação Underhand, que investiga desvios em pelo menos 50 prefeituras cearenses. O deputado Júnior Mano é o principal alvo sob supervisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
O deputado teria destinado pelo menos R$ 120 milhões para cidades do sertão cearense, incluindo Choró, onde Bebeto do Choró foi eleito prefeito em 2024.
Bebeto, protegido político de Júnior Mano, teria usado uma estrutura de compra de votos, intimidação e ameaças apoiadas por membros do Comando Vermelho, uma facção criminosa com atuação na região.
O objetivo de ambos era controlar politicamente a região a partir das eleições municipais mais recentes.
Na Operação Underhand, a PF detectou que as empresas controladas por Bebeto do Choró já estavam sob investigação em outra operação, a Camisa Sete. Entre essas empresas, uma delas tem como sócio Maurício Gomes Coelho, um vigilante que aparece como laranja em contratos que ultrapassam R$ 318 milhões com prefeituras.
Maurício recebia salário mensal modesto, mas foi capaz de abrir uma empresa com capital social elevado, levantando suspeitas dos investigadores.
Segundo as autoridades, Maurício e essa empresa desempenham papel central no esquema. Ao menos outras sete empresas também teriam recebido contratos vultosos com administrações municipais controladas por esse grupo criminoso.
Ao bloquear ativos no valor de R$ 54 milhões de Júnior Mano, Bebeto do Choró e outros envolvidos, o ministro Gilmar Mendes destacou que são usadas contas bancárias próprias e de terceiros para ocultar a origem ilícita do dinheiro.
O ministro ressaltou que, mesmo após medidas judiciais, o esquema continua ativo graças a estratégias para disfarçar a movimentação dos recursos.
A PF reuniu evidências, como mensagens de celular de investigados, que demonstram o envolvimento no desvio de recursos públicos e no uso de entidades do terceiro setor ligadas ao grupo.
A investigação também revelou uma complexa operação de lavagem de dinheiro associada a pessoas indicadas por Bebeto do Choró.
Por fim, o gabinete de Júnior Mano reafirmou que o deputado não participa de processos administrativos e confia na Justiça para que a verdade prevaleça ao final das investigações.
As autoridades continuam buscando contato com Bebeto do Choró, ainda foragido, para prestar esclarecimentos.
