Dois meses após ataque em Christchurch, Nova Zelândia e França querem que líderes do Facebook e Twitter se comprometam a controlar conteúdo extremista
Paris recebe nesta quarta-feira um chamado contra a violência nas redes sociais. Dois meses depois do ataque a mesquitas de Christchurch, na Nova Zelândia, Jacinda Ardern, primeira-ministra do país, e Emmanuel Macron, presidente da França, organizam evento para discutir formas de minimizar conteúdo violento e terrorista online. O encontro, conhecido como o “Chamado de Christchurch”, reúne líderes globais e representantes das maiores empresas de tecnologia para pensar em maneiras de enfrentar o problema.
O foco do evento, segundo afirmou Jacinda à rede de televisão CNN, é “discutir o conteúdo extremista”, e não limitar ou reduzir a “liberdade de expressão” dos usuários. Ela disse ter conversado com o Facebook após o ataque armado que matou 51 pessoas em seu país ter sido transmitido em tempo real na plataforma da empresa. A rede social removeu cerca de 1,5 milhão de cópias do vídeo só nas primeiras 24 horas depois do ocorrido. Com o “Chamado de Christchurch”, a primeira-ministra espera que as nações possam adotar, de forma conjunta, leis que guiem as empresas de tecnologia sobre como lidar com os atos de terrorismo sem ampliar seu alcance.
Políticos como Theresa May, do Reino Unido; Justin Trudeau, do Canadá; Jean-Claude Juncker, presidente da comissão europeia; Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega; Macky Sall, presidente do Senegal e o rei Abdullah II, da Jordânia, confirmaram presença. Representantes das empresas de tecnologia como Alibaba, Huawei, IBM, Ericsson, Uber, Samsung, Google, Microsoft e Twitter também irão participar do encontro. O Facebook, apesar de seu papel central no caso, não enviará o presidente Mark Zuckerberg, mas sim um representante da diretoria.
Zuckerberg já esteve na França na sexta-feira passada para uma reunião com Macron. Na ocasião, eles discutiram os planos do governo francês de ser mais ativo no policiamento de conteúdo violento nas redes sociais. O líder da França tem buscado um papel ativo no diálogo com grandes empresas de tecnologia e briga para que a União Europeia (UE) adote regras mais rígidas para o setor. Especificamente com o Facebook, o governo francês é pioneiro em um modelo de regulação compartilhada das publicações, já que não confia que a companhia consiga vigiar sozinha tudo que é postado.
Tentativas de regular as empresas digitais crescem sobretudo na Europa. Só neste ano, o Google foi multado pela comissão antitruste da UE em 1,5 bilhão de euros. Em 2017, a empresa já havia recebido multa de 5 bilhões de dólares em outro caso similar. A Apple também foi multada em 2016 pelas autoridades europeias em 15,3 bilhões de dólares. Nos Estados Unidos, a agência Federal Trade Commission estuda multar o Facebook em até 5 bilhões de dólares por questões de privacidade.
Mais regulação é inevitável. O evento desta quarta-feira mostra que, após um longo período de negação, os gigantes de tecnologia estão mais abertos a conversar.