PAULO RICARDO MARTINS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A empresa brasileira de aviação Embraer estima que as tarifas extras de 50% impostas pelos Estados Unidos, durante o governo de Donald Trump, provocarão um gasto de R$ 2 bilhões só neste ano. O CEO da companhia, Francisco Gomes Neto, declarou que até 2030 o total de taxas pode atingir R$ 20 bilhões.
Em uma entrevista dada nesta terça-feira (15), Gomes Neto disse que cada avião terá um custo adicional de R$ 50 milhões caso as tarifas permaneçam. Esse aumento poderia inviabilizar as vendas do modelo 195 E1.
“Poucas empresas aceitariam pagar tarifas tão altas. Por isso, acreditamos que isso será revertido por meio de negociações”, afirmou o executivo.
Os Estados Unidos são o principal mercado da Embraer, onde a empresa já atua há 45 anos e emprega 3.000 trabalhadores americanos. Cerca de um terço dos voos regionais em grandes aeroportos dos EUA utilizam aviões da Embraer.
Gomes Neto destaca que, diferente dos produtores de commodities, a indústria aérea não costuma redirecionar suas vendas para outros clientes.
Ele lembra que essa tarifa pode afetar empregos da Embraer tanto nos EUA quanto no Brasil.
“Um ponto que ajuda é que aproximadamente 45% do custo de um avião é de equipamentos americanos, que não sofrem a tarifa, mas o valor de R$ 50 milhões por avião já considera essa situação. Isso mostra o quanto a tarifa de 50% é impactante.”
O executivo compara o efeito da tarifa a um embargo e diz que o impacto pode ser tão grande quanto o da pandemia.
Uma saída para enfrentar a sobretaxa seria aumentar a produção nos EUA, mas isso demandaria tempo e investimento significativo, segundo Gomes Neto.
“No setor de aviação comercial é mais complicado. Cerca de 50% do avião é de origem americana, e a produção dos próximos anos deverá se manter estável, com cerca de 40 a 45 unidades por ano durante a próxima década. Portanto, fica difícil justificar um investimento alto para um volume que não cresce”, explicou o CEO.
Apesar das dificuldades, Gomes Neto mostrou-se otimista quanto ao progresso nas negociações. Ele participou de reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin para discutir o tema.
Após o encontro, Alckmin destacou que o governo prioriza reverter a tarifa até que ela entre em vigor, no dia 1º de agosto, mas poderá solicitar a prorrogação desse prazo, caso necessário. A proposta de adiamento veio da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Até o momento, Gomes Neto informou que não houve cancelamento ou atraso na entrega de aviões. “É uma situação nova e todos estão buscando entender e trabalhar para encontrar uma solução antes do prazo final.”