Ambos os analistas apontaram que a AGOA, uma espécie de Plano Marshall para o continente africano, ao determinar uma série de gatilhos econômicos e sociais ligados às práticas do neoliberalismo ocidental, afasta os países da África do seu objetivo principal: fomentar o comércio com os EUA.
A Lei de Crescimento e Oportunidades para a África é a política dos EUA para o continente africano. Ela oferece, aos países do continente que estão qualificados para ingressar no tratado, acesso isento de impostos ao mercado dos EUA para quase 7 mil produtos.
O problema do tratado, conforme explicou Tahirá Endo, é que Washington, ao contrário da China, não busca apenas o desenvolvimento das relações bilaterais com países africanos. O governo dos EUA “condiciona as questões de comércio às práticas determinadas por organizações como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional [FMI]”.
“Com a exigência de reformas estruturais, políticas e econômicas pautadas pelas agências do neoliberalismo, as relações se tornaram pouco expressivas”, diz ele, observando que o “pacote de imposições subjetivas” de Washington, como uma “economia baseada no mercado”, o respeito aos direitos humanos e o “combate à corrupção”, são práticas para as quais não há uma régua de aferição.
Wanilton Dudek classificou a AGOA de “uma política para colocar os africanos sob a tutela dos EUA”. Para ele, “ainda que o tratado tenha impulsionado a economia de alguns países da região, principalmente quando o ciclo de commodities está alto”, isso não significou exportação de produtos com alto valor agregado, pois, “a longo prazo, não há desenvolvimento da estrutura econômica e tampouco geração de emprego”.
Ainda assim, conforme destacou o analista, o Congresso dos EUA aprovou uma legislação estendendo o programa até 2025, em um momento em que Rússia e China expandem seus negócios no continente africano e na esteira das recentes crises políticas em Guiné-Bissau, Mali e Burkina Faso.
África: mais distante dos EUA, mais próxima da China
Desde 2000, quando a AGOA foi assinada, as autoridades norte-americanas expandiram algumas vezes a lista de produtos beneficiados pelo tratado, uma tentativa de aprofundar a cooperação com a África. No entanto, segundo Wanilton Dudek, as “ferramentas de pressão” seguem intactas.