LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
A economia do Brasil deve crescer mais devagar em 2026, segundo especialistas, devido à falta de força na agricultura e juros ainda altos. O Produto Interno Bruto (PIB) deve ter um crescimento menor que o esperado para 2025.
O mercado financeiro projeta um crescimento de 1,8% para o PIB em 2026, abaixo dos 2,26% previstos para 2025, de acordo com o boletim Focus do Banco Central divulgado no dia 29.
O resultado oficial de 2025 será divulgado pelo IBGE em março.
Segundo Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, essa desaceleração não deve causar grandes problemas para as pessoas, já que a inflação deve ficar controlada e o desemprego, baixo. Ele projeta um crescimento do PIB de 1,5% para 2026, após 2,1% em 2025.
Para a inflação oficial, medida pelo IPCA, Sergio Vale espera um aumento de 4,2% em 2026, ligeiramente menor que os 4,4% previstos para 2025. A mediana das projeções do mercado financeiro indica um IPCA de 4,05% para 2026, abaixo do teto da meta de 4,5% do Banco Central.
Especialistas acreditam que os preços dos alimentos podem subir um pouco em 2026, depois da queda em 2025 causada pela boa safra e pela queda do dólar. Porém, os juros altos devem ajudar a controlar outros preços, como os serviços.
A taxa Selic deve começar a cair no primeiro trimestre de 2026, mas ainda deve terminar o ano acima de 10%, com a projeção de 12,25% ao ano no fim de 2026.
Rafael Cardoso, economista-chefe do banco Daycoval, comenta que a queda da inflação em 2026 vem do equilíbrio nos preços dos bens importados e da desaceleração da economia, que diminui a inflação dos serviços.
O banco Daycoval prevê crescimento do PIB de 1,7% e inflação de 4,1% para 2026.
Nova regra do Imposto de Renda pode ajudar economia
Rafael Cardoso destaca que a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 pode aumentar o consumo das famílias e ajudar a economia a não desacelerar tanto. Ele diz que não espera grandes mudanças fiscais do governo, mas admite que surpresas podem acontecer antes das eleições.
Francisco Pessoa Faria, do FGV Ibre, comenta que o ano eleitoral pode deixar o mercado financeiro mais instável.
Dólar e alimentos podem influenciar inflação
A previsão para o dólar em 2026 é de R$ 5,50, um pouco mais caro que em 2025. Isso pode aumentar os custos dos insumos e dos alimentos, influenciando a inflação. Francisco Pessoa estima que a inflação dos alimentos vai subir um pouco, mas diz que ainda há dúvidas sobre como os preços vão se comportar.
Ele também aponta que a inflação dependerá de fatores como a conta de luz e ações do governo sobre o preço da gasolina.
Para o PIB, Francisco Pessoa prevê crescimento de 1,6% e acredita que o desemprego continuará baixo, em torno de 5,1% a 5,2%, pois a desaceleração virá principalmente da agricultura, que não influencia muito o mercado de trabalho.
Ele destaca que a taxa de desemprego também é afetada pela quantidade de pessoas procurando emprego e que, com o envelhecimento da população, essa demanda deve diminuir.
Crescimento econômico desacelera suavemente
Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre, afirma que o PIB está desacelerando de forma suave, sem quedas bruscas. Ele prevê desemprego entre 6% e 6,5% em 2026, ainda considerado baixo para os padrões históricos.
Claudia Moreno, do C6 Bank, acredita que o mercado de trabalho vai continuar firme, com desemprego abaixo de 6% em 2025 e 2026, o que ajuda a manter a atividade econômica. Mas esse cenário também desafia o controle da inflação, especialmente nos serviços.
Em 2025, o Banco Central passou a monitorar a inflação de forma contínua, considerando que a meta é descumprida somente se a inflação ficar fora do intervalo de 1,5% a 4,5% por seis meses seguidos. O centro da meta é 3%.
O IPCA ultrapassou a meta pela primeira vez em junho, mas voltou a ficar abaixo de 4,5% em novembro.
O banco Daycoval esperava um desemprego de 5,3% para o trimestre até dezembro de 2025 e 5,5% para o mesmo período em 2026, com médias anuais de 5,9% e 5,7%, respectivamente.
Já Sergio Vale estimava desemprego médio de 6% em 2025 e 6,5% em 2026.

