Muita gente apresenta algum desgaste ou amolecimento da cartilagem atrás da patela, principalmente quem tem o hábito de correr, subir e descer escadas ou ficar sentado por longos períodos. Esse desgaste é comum, como o desgaste na sola de um tênis pelo uso frequente. A cartilagem por si só não gera dor, mas quando o movimento do joelho fica desregulado, ela pode ficar irritada e causar desconforto.
O mais importante é entender que isso geralmente não indica uma condição grave. Na maioria das vezes, o problema está relacionado à forma como o joelho se movimenta, e não a um dano severo na cartilagem. Com exercícios para fortalecer os músculos, correções nos movimentos, alongamentos e mudança de hábitos, a dor tende a diminuir bastante.
O que é a condromalácia e por que ocorre
A condromalácia patelar é uma das causas mais frequentes de dor na frente do joelho, especialmente em jovens ativos e mulheres. O termo significa amolecimento da cartilagem e refere-se ao desgaste da superfície que cobre a parte de trás da patela, que é o pequeno osso que atua como uma polia sobre o fêmur. A dor intensa aparece apenas quando o desgaste é muito grande; geralmente, o desconforto está mais ligado ao desequilíbrio muscular do que a alterações da cartilagem.
Entre as causas mais comuns estão o desalinhamento da patela, o desequilíbrio entre músculos da coxa e do quadril, sobrepeso, traumas diretos e atividades de impacto como corrida ou agachamentos feitos de forma errada. Estima-se que até 40% das pessoas que praticam esportes recreativos tenham dor no joelho relacionada à síndrome da dor patelofemoral, da qual a condromalácia faz parte.
Sintomas que exigem atenção
O principal sintoma é dor na frente do joelho, que piora ao subir ou descer escadas, ao agachar ou ao ficar muito tempo sentado com o joelho dobrado, conhecido como “sinal do cinema”. Também pode haver estalos, sensação de areia no joelho e, às vezes, pequenos inchaços. Alguns destes sintomas merecem investigação, embora raramente indiquem um desgaste grave.
Ignorar esses sinais pode piorar o desgaste da cartilagem e causar inflamações frequentes. A dor pode se tornar constante e limitar atividades simples, como caminhar longas distâncias ou praticar exercícios leves.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é feito pelo ortopedista por meio de exame clínico e histórico do paciente. A ressonância magnética é usada para confirmar o grau de afetamento da cartilagem, mas o tratamento começa antes, focado em fortalecer os músculos. A lesão da cartilagem é dividida em quatro níveis, do amolecimento ao desgaste total, quando o osso fica exposto. No entanto, na maioria dos casos, o tratamento é semelhante para todos os estágios.
O tratamento inicial é conservador. O fortalecimento muscular orientado por fisioterapeuta é fundamental para corrigir desequilíbrios e melhorar o alinhamento da patela. Medicamentos anti-inflamatórios podem ajudar a aliviar a dor, assim como infiltrações de ácido hialurônico em casos específicos, para facilitar o ganho de força muscular e a recuperação. A cirurgia é indicada apenas em casos graves, com desgaste extenso e falha do tratamento clínico.
Prevenção e qualidade de vida
É possível prevenir o agravamento da condromalácia seguindo bons hábitos de movimento. Fortalecer os músculos do quadríceps e do quadril, alongar-se regularmente e usar calçados adequados durante os exercícios reduz a sobrecarga na patela. Controlar o peso e evitar aumentos bruscos na intensidade dos treinos também são importantes. A dor tende a melhorar em 4 a 6 semanas após o início das atividades físicas.
Sentir dor ou desconforto na região anterior do joelho é um alerta para fazer ajustes no corpo. Quanto mais cedo o diagnóstico e o tratamento começarem, maiores são as chances de evitar problemas crônicos.
Mais do que uma questão articular, a condromalácia indica a importância do equilíbrio corporal. Cuidar dos joelhos é investir em mobilidade, autonomia e qualidade de vida a longo prazo.
*Texto escrito pela ortopedista Camila Cohen Kaleka (CRM/SP 127.292 RQE 57.765), mestre pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, doutora pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e membro da Brazil Health
