Daniel Vorcaro, proprietário do Banco Master, está se organizando para vender mais de R$ 1 bilhão em bens pessoais, como a seguradora Kovr e ações de algumas empresas, para injetar recursos no banco. Paralelamente, há uma análise em curso no Banco Central sobre a venda de parte do Master para o banco estatal BRB, de Brasília. Esse processo não tem pressa, pois o prazo de avaliação de um ano se renova a cada entrega de documentos.
O banco BTG Pactual é um dos que demonstram interesse nos ativos da família Vorcaro e já comprou R$ 1,5 bilhão em ativos da holding do grupo em maio.
Em março, o BRB oficializou a intenção de adquirir 58% do Master, processo que ainda aguarda aprovação do Banco Central. A família Vorcaro tem buscado vender ativos para honrar dívidas do banco. Fontes do Banco Central afirmam que a análise está dentro do esperado, devido à complexidade da operação.
As instituições envolvidas, Master, BTG, BRB e Banco Central, não comentaram o assunto.
Além disso, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) liberou uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para ajudar o Master a pagar suas Letras Financeiras. A intenção da família Vorcaro com o aporte é demonstrar compromisso com o banco tanto ao FGC quanto ao Banco Central.
O FGC não comenta casos específicos.
Nos últimos anos, o Master cresceu muito, mas seu modelo de negócios é questionado por especialistas. O banco captou muitos recursos vendendo CDBs com juros altos garantidos pelo FGC, mas investiu em ativos de baixa liquidez, como precatórios, direitos creditórios e ações de empresas em crise.
Por isso, a venda para o BRB é vista como um socorro de um banco público a um privado, embora os dois bancos ressaltem a sinergia da operação, iniciada após a venda de carteiras de crédito do Master para o BRB em 2024.
O valor envolvido na operação está em torno de R$ 25 bilhões e tem diminuído desde o anúncio inicial devido à venda de ativos pelo Master para quitar dívidas. Se aprovado pelo Banco Central, esse valor pode ser ajustado para baixo.
Uma das partes mais valiosas para o BRB é a carteira de crédito consignado ligada a servidores públicos estaduais.
Análise pelo Banco Central
O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e o do Banco Master, Daniel Vorcaro, têm fornecido informações ao Banco Central sobre a transação. A análise está sendo feita cuidadosamente, sob responsabilidade do diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Dias de Brito Gomes, e é considerada normal devido à complexidade e presença do banco estatal.
O Banco Central avalia se o BRB terá capacidade para absorver os ativos do Master sem riscos excessivos, sendo o plano de negócios um ponto fundamental para a aprovação.
O processo analítico permite renovação do prazo a cada novo documento entregue e não há pressão para finalizar rapidamente.
Aval do Cade
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já aprovou a transação rapidamente, pois tanto o Master quanto o BRB são bancos médios e a operação não prejudica a concorrência.
Em agosto, o Banco Central autorizou um aumento de capital no Master de R$ 1 bilhão, ocorrendo pela segunda vez no ano, elevando o capital para R$ 4,763 bilhões. O aporte foi condição para o BRB adquirir os ativos do Master, conforme reportado.
Também em agosto, o Conselho Monetário Nacional aprovou mudanças nas regras do FGC, com o objetivo de reduzir riscos na tomada por instituições financeiras, um recado sugerido para que não se repitam os modelos adotados pelo Master.
Estadão Conteúdo