Em uma quarta-feira considerada muito importante para as decisões econômicas, o dólar começou o dia com uma leve alta, enquanto investidores aguardam as decisões sobre as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos.
Espera-se que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil e o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, mantenham as taxas de juros inalteradas. No Brasil, a taxa está em 15% ao ano, e nos Estados Unidos, entre 4,25% e 4,5%.
Além disso, especialistas estão acompanhando as negociações entre os dois países, que acontecem poucos dias antes da aplicação de uma sobretaxa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA.
Por volta das 9h05, o dólar subiu 0,25% e estava cotado a R$ 5,5825. No dia anterior, a moeda havia fechado em queda e a bolsa estava em alta.
O prazo para negociar as sobretaxas impostas pelo governo dos Estados Unidos termina na sexta-feira, 1º de agosto. Enquanto países como Japão e União Europeia conseguiram acordos com os americanos, o Brasil enfrenta dificuldades para avançar nas conversas.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta contato com os EUA desde o início de julho, após o anúncio das sobretaxas pelo ex-presidente Donald Trump, mas até agora não houve muita disposição para negociar por parte dos Estados Unidos.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) destacou que o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Comércio e Serviços, teve uma longa conversa com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, mostrando grande empenho em estabelecer diálogo.
Segundo Haddad, o governo brasileiro não está preso ao prazo do dia 1º de agosto, pois isso poderia atrapalhar as negociações de maneira mais aberta e sincera.
O Ministério do Desenvolvimento informou que o foco principal é a retirada total das tarifas, mas o governo também estuda a possibilidade de negociar a redução das sobretaxas para setores específicos.
O Brasil é o maior produtor e exportador global de suco de laranja, vendendo a maior parte dessa produção para o exterior, com uma fatia significativa destinada aos Estados Unidos. O país também é o maior fornecedor de café para o mercado norte-americano.
Howard Lutnick mencionou que alguns produtos que os EUA não produzem internamente, como manga, cacau, café e abacaxi, podem ter tarifa zero.
Além disso, há também uma solicitação para que as aeronaves fabricadas pela empresa brasileira Embraer sejam excluídas das sobretaxas, já que a empresa é importante para a aviação regional americana e importa peças dos EUA. As ações da Embraer subiram em resposta à notícia.
Diante da falta de uma resposta clara dos EUA, o governo brasileiro avalia planos de contingência, mas mantém o foco na via diplomática.
O governo afirma que a soberania do Brasil não poderá ser negociada nas conversas sobre as tarifas impostas pelos americanos.
O mercado financeiro encara as negociações com cautela, considerando baixas as chances de suspensão ou adiamento das sobretaxas, o que influencia as decisões de investimento.
Thiago Avallone, especialista em câmbio, ressaltou que o mercado ainda tenta avançar nas negociações, enquanto observa o plano de contingência do governo e seus possíveis efeitos na economia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que a imposição das sobretaxas pode causar uma desaceleração maior do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do que o previsto inicialmente.
Algumas tarifas, como as impostas sobre aço e alumínio, já estão afetando a economia do país. Segundo Petya Koeva-Brooks, vice-diretora do Departamento de Pesquisa do FMI, o impacto das novas tarifas deve tornar a desaceleração econômica mais acentuada.
O FMI estima que o crescimento da economia brasileira será de 2,3% em 2025, abaixo dos 3,4% do ano anterior, e deve desacelerar para 2,1% em 2026.