O dólar começou a semana em alta, superando novamente o valor de R$ 5,30 após quatro dias. O aumento reflete a cautela mundial dos investidores, que ficaram preocupados com uma possível bolha em ações de grandes empresas de tecnologia nos Estados Unidos e a valorização global do dólar.
Os investidores estão aguardando dados importantes que serão divulgados nos próximos dias nos EUA, especialmente sobre o mercado de trabalho, que não foram liberados antes devido a uma paralisação governamental de 43 dias. Esses dados ajudarão a definir se o Federal Reserve continuará com as políticas atuais de juros.
O ambiente externo provocou ajustes no mercado financeiro brasileiro, depois de uma fase em que o real estava valorizado. Também espera-se um aumento nas transferências de dinheiro para o exterior nas próximas semanas. O Banco Central realizou um leilão para rolar uma dívida que vencia em 2 de dezembro.
O dólar à vista atingiu o máximo de R$ 5,3330 ao final do dia, fechando em R$ 5,3310, a maior cotação em 10 dias. Em novembro, o dólar caiu quase 1%, e no ano acumulou perda de 13,74%.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, destaca que os investidores estão cautelosos devido à espera dos dados do emprego nos EUA, com o mercado brasileiro fechado no feriado do Dia da Consciência Negra.
Ele ressalta ainda a importância de observar esses números para entender se o Federal Reserve poderá cortar juros futuramente.
A ata da última reunião do Fed, que reduziu os juros em 25 pontos-base, será divulgada em breve, e recentes comentários indicam que novos cortes não são garantidos. As opiniões dos dirigentes do Fed têm se dividido entre continuar ou interromper a diminuição da taxa de juros.
Philip Jefferson, vice-presidente do Fed, afirmou que a economia dos EUA desacelerou por conta da paralisação do governo, mas que os efeitos disso são temporários. Ele também apontou que a política monetária ainda é restritiva, porém próxima de um nível neutro.
Especialistas do BTG Pactual ressaltam que a postura do Fed segue rigorosa, dada a incerteza causada pela falta de dados durante a paralisação.
O índice que mede o comportamento do dólar frente a outras moedas fortes (DXY) subiu cerca de 0,25%, enquanto o iene caiu após o PIB japonês mostrar retração. O peso chileno teve leve alta com expectativa política positiva.
José Faria Júnior, sócio-diretor da Wagner Investimentos, comenta que a valorização do real depende do desempenho de moedas de países como Austrália, Colômbia, México e China, que recentemente se valorizaram em relação ao dólar.
Mercado de ações
O Ibovespa manteve estabilidade na maior parte do dia, oscilando ao redor de 157,5 mil pontos, sem grandes movimentos. Ao final do pregão, sofreu queda de 0,47%, acompanhando as perdas nas bolsas internacionais e no câmbio.
As maiores quedas vieram do setor financeiro e de algumas blue chips, enquanto outras empresas como Vale e Petrobras ajudaram a conter a queda com bons resultados recentes.
Felipe Cima, analista da Manchester Investimentos, destaca que tanto a Vale quanto a Petrobras apresentaram números positivos, com destaque para custos controlados e dividendos anunciados pela Vale, e produção recorde e dividendos da Petrobras.
A queda nos preços do petróleo contribuiu para um dia negativo nas bolsas, apesar da descoberta de petróleo pela Petrobras em área do pré-sal ter ajudado a limitar a baixa.
Após o fim das divulgações dos resultados do terceiro trimestre, a atenção se volta novamente aos fatores macroeconômicos tanto no Brasil quanto no exterior, com destaque para as incertezas sobre cortes de juros pelo Fed.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, indica que o Ibovespa voltou a se movimentar em alinhamento com o mercado externo, após uma recente divergência, enquanto os dados locais confirmam a desaceleração da economia brasileira.
Luise Coutinho, da HCI Advisors, avalia duas informações do dia: uma inflação controlada e uma atividade econômica mais fraca pelo IBC-Br, que pode indicar a possibilidade de cortes no juro básico brasileiro no futuro próximo.
O IBC-Br mostrou que a economia caiu 0,24% em setembro, reforçando sinais de desaceleração.
Taxa de juros
Os juros futuros tiveram alta impulsionada pela valorização do dólar e pela maior aversão ao risco internacional. Os investidores estão cautelosos com dados importantes que serão divulgados nos EUA, especialmente o relatório de emprego.
O contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2027 atingiu máxima intradia de 13,665%, refletindo essa nova postura no mercado.
O juro do título americano (T-Note) de dois anos também subiu, reduzindo as expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve em dezembro.
Gean Lima, gestor da Connex Capital, comenta que o recuo da atividade econômica no Brasil poderia indicar o início de cortes na taxa Selic, mas o receio com os dados americanos domina o mercado atualmente.
Lima também destaca a divulgação da ata da última reunião do Fed e outros indicadores importantes que influenciam as decisões futuras.
Segundo o UBS BB, o PIB brasileiro deve mostrar crescimento próximo a zero no segundo semestre, com projeção de 1,8% para 2025.
As expectativas para a inflação medida pelo IPCA em 2025 foram ajustadas para baixo, ficando abaixo do teto estabelecido pelo Banco Central, e as projeções para os anos seguintes permanecem estáveis.
Estadão Conteúdo
