VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar apresentou variações significativas nesta terça-feira (17), encerrando o dia com um leve aumento de 0,16%, cotado a R$ 5,496, acompanhando a valorização da moeda norte-americana no cenário internacional. No entanto, no acumulado do ano, a moeda americana registra uma queda de 11,05%.
Enquanto isso, o mercado acionário registrou queda de 0,29%, alcançando 138.840 pontos, refletindo a tendência negativa dos principais índices nos mercados europeu, americano e asiático.
Os investidores estão atentos ao aumento das tensões entre Israel e Irã, que já se encontram em seu quinto dia de conflito, além da expectativa para a superquarta, quando os bancos centrais do Brasil e dos EUA anunciarão suas decisões sobre as taxas de juros.
O conflito no Oriente Médio permanece como o principal fator de instabilidade nos mercados. As mortes de iranianos subiram de 224 para 269, embora a falta de transparência do governo do Irã dificulte a confirmação desses números. Do lado israelense, 24 pessoas foram vítimas fatais.
O confronto teve início na sexta-feira (13), quando Israel realizou um ataque surpresa que eliminou grande parte do comando militar iraniano e seus principais cientistas nucleares. Israel afirma controlar agora o espaço aéreo iraniano e planeja intensificar suas ações nos próximos dias.
O mercado financeiro reagiu com apreensão diante dessa escalada, considerando o dólar como um ativo seguro em tempos de risco, fato refletido na valorização da moeda frente a outras moedas importantes. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra seis divisas, subiu 0,85%, fechando a sessão em 98,83.
Durante a manhã, o dólar chegou a recuar significativamente, chegando a cair 0,40% às 11h07, cotado a R$ 5,465, a menor cotação do ano pelo segundo dia consecutivo. No início da tarde, a moeda oscilou antes de apresentar alta, influenciada pelos acontecimentos do conflito. Seu pico foi às 15h41, com alta de 0,34%, chegando a R$ 5,506.
Segundo João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos, “As oscilações refletem a cautela no cenário internacional devido à situação no Oriente Médio. Qualquer novidade altera o comportamento dos ativos de risco, protegendo o dólar como porto seguro”.
Entre as notícias recentes, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou que o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, é um “alvo fácil”, mas negou qualquer intenção imediata de eliminá-lo. Trump também exigiu rendição total do regime iraniano.
Israel continuou seus ataques a alvos nucleares e de mísseis do Irã, além de lançar uma guerra cibernética extensa contra o país. O Irã, por sua vez, responde com ataques aéreos contra Israel.
Para Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, o conflito pode se intensificar, com possibilidade de ataques agressivos iminentes, deixando o clima global de extrema tensão.
Os mercados globais permanecem receosos, com o Oriente Médio, uma região determinante para a produção de petróleo, transformando-se em um ponto crítico. As ações europeias caíram para seus níveis mais baixos em quase um mês, com o índice STOXX 600 recuando 0,85%.
Os principais índices americanos também registraram quedas significativas: Dow Jones caiu 0,70%, S&P 500, 0,84%, e Nasdaq Composite, 0,91%.
Embora ainda não haja impactos diretos na oferta de petróleo, a ameaça do conflito mantém os mercados em alerta. A questão central reside no Estreito de Ormuz, cuja eventual interdição poderia elevar os preços do petróleo de forma significativa.
Jukka Jarvela, chefe de ações da Mandatum Asset Management, alertou para as implicações de um possível fechamento do Estreito para os preços do petróleo.
Os preços do barril Brent e WTI fecharam com alta acima de 4%, impulsionando as ações do setor energético, que subiram 1,91% no pregão. As ações da Petrobras foram destaques, com PETR3 valorizando 3,06% a R$ 35,99 e PETR4 subindo 2,35% a R$ 32,97.
Adicionalmente, investidores aguardam decisões importantes na superquarta, com o Federal Reserve e o Banco Central do Brasil definindo as taxas de juros.
O Fed deve manter as taxas entre 4,25% e 4,50%, observando os efeitos das políticas do governo americano. Dados recentes indicam uma queda nas vendas no varejo americano e desaceleração nos gastos dos consumidores, sugerindo uma possível estabilidade na política monetária.
Paulo Silva, cofundador da Advisory 360, aponta que os riscos geopolíticos e a volatilidade dos preços do petróleo devem influenciar uma postura cautelosa do Fed a curto prazo.
O Copom do Banco Central brasileiro se reúne para definir a Selic, sendo provável a manutenção na taxa atual de 14,75% ou um pequeno aumento de 0,25 ponto percentual, conforme análise de Ian Lopes, especialista da Valor Investimentos.
Cristiane Quartaroli, economista chefe do Ouribank, destaca que uma Selic mais alta pode atrair capital especulativo, beneficiando o real e a taxa de câmbio.
No cenário doméstico, a atenção voltou-se às controvérsias sobre o aumento das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A Câmara dos Deputados aprovou a urgência para um projeto que anula o decreto recente do governo sobre o IOF.
Segundo Cristiane Quartaroli, a incerteza gerada por essa disputa política intensifica a volatilidade do dólar frente ao real.
O placar da votação, 346 a 97, revela o descontentamento dos parlamentares com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sendo necessário o quórum de 257 para aprovação.
Após a votação, o deputado Hugo Motta comentou em rede social que o resultado foi um sinal claro da sociedade: “Esta discussão sobre as contas não é sobre quem mora na cobertura ou no andar de baixo, mas sim sobre todos que vivem no mesmo edifício”.