Após dois dias de queda, o dólar voltou a subir nesta terça-feira, 26, chegando perto de R$ 5,45. O motivo foi a baixa nos preços do petróleo e outras mercadorias, o que abriu espaço para que os investidores fizessem ajustes em suas posições.
A inflação medida pelo IPCA-15 em agosto foi menos negativa do que o esperado, diminuindo a expectativa de corte da taxa básica de juros pelo Banco Central em dezembro. No entanto, essa notícia teve menor impacto no mercado de câmbio.
No começo do dia, o dólar chegou a cair para R$ 5,40, influenciado por movimentos nos Estados Unidos, mas perdeu força pela manhã devido à queda dos preços das commodities e novas ameaças tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, contra China e Índia.
O dólar fechou a R$ 5,4345, com alta de 0,37%. No mês, a moeda americana teve queda de menos de 3%, e no ano acumula queda de 12,07%.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, explicou que a queda nos preços das commodities tem afetado moedas emergentes. Segundo ele, o real está valorizado devido aos juros elevados, que atraem investimentos, mas o dólar pode subir se o Banco Central começar a cortar esses juros.
Entre as moedas latino-americanas, o real teve perda menor em comparação a outras como o peso colombiano e chileno. No ano, a moeda brasileira apresenta o melhor desempenho da região.
O IBGE divulgou que o IPCA-15 recuou 0,14% em agosto, uma deflação menor do que a esperada pelo mercado. Isso indicou que a expectativa de inflação pode estar mais alta do que o previsto, o que pode limitar cortes na taxa Selic ainda em 2024, na avaliação do economista Luis Otávio de Sousa Leal, chefe da G5 Partners.
O índice Dólar (DXY), que acompanha a variação do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, teve alta moderada, mas ainda está em queda no mês e no ano. Isso mostra que o dólar tem perdido força globalmente, com investidores buscando moedas de países desenvolvidos e ouro como alternativa.
Donald Trump anunciou a demissão de Lisa Cook da diretoria do Federal Reserve, gerando incertezas quanto à política monetária dos EUA. A demissão é contestada legalmente, e o presidente americano indicou que está disposto a disputar a decisão na justiça. Esse evento tem gerado cautela no mercado, afetando o valor do dólar.
Mercado de ações
O Ibovespa teve leve queda para 137.771 pontos, perdendo o nível de 138 mil pontos alcançado na segunda-feira. O volume financeiro aumentou, sinalizando recuperação no interesse dos investidores. Na semana, o índice caiu 0,14%, mas ainda sobe 3,53% no mês e 14,54% no ano.
Entre as ações, as petrolíferas sofreram com a queda do petróleo, enquanto o setor financeiro teve desempenho misto. Empresas como Minerva, Pão de Açúcar e Vibra tiveram ganhos, enquanto MRV, Raízen e Yduqs registraram perdas. A Vale se destacou com alta de 0,89%.
A inflação oficial em agosto, mostrado pelo IPCA-15, mostrou uma deflação menor que a projetada, o que diminui as chances de cortes iminentes nos juros, considerando também recentes sinais de afrouxamento da política monetária dos EUA.
Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, observou que a demissão da diretora do Fed reacendeu questões jurídicas e econômicas importantes para os mercados.
O cenário internacional continua marcado pela instabilidade decorrente das ações do presidente Donald Trump em relação ao Federal Reserve, afetando os rendimentos dos títulos públicos americanos com diferentes prazos.
João Soares, da Rio Negro Investimentos, afirmou que a demissão da diretora gerou cautela global, refletida no preço do dólar e na bolsa brasileira.
Donald Trump afirmou estar preparado para disputar judicialmente a demissão da diretora do Fed e garantiu ter opções para substituí-la, buscando controlar a composição do banco central americano.
Taxas de juros
Apesar de melhora temporária nas expectativas de inflação, o dado do IPCA-15 aumentou a cautela do Banco Central, impedindo maior queda nas taxas de juros no Brasil. Os títulos públicos com prazos longos ficaram mais pressionados devido a incertezas internacionais.
As taxas de juros para os contratos futuros de 2027 a 2031 aumentaram após o dado do IPCA-15 ser divulgado.
O desafio para o Banco Central é lidar com uma inflação ainda alta e persistente, especialmente nos preços de serviços, que vêm aumentando próximo ao dobro da meta oficial de 3%, segundo análise de Roberto Secemski, economista chefe para o Brasil do Barclays.
Luciano Costa, da Monte Bravo, defende a manutenção da Selic sem cortes até o final de 2025 para controlar a inflação e preservar o emprego. O primeiro corte na taxa de juros é esperado apenas para 2026.
O economista Vitor Oliveira, da One Investimentos, também destaca que a leitura do IPCA-15 foi decisiva para a alta nas taxas de juros locais, mesmo com influência das taxas americanas.