SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar aumentou nesta terça-feira (26), enquanto investidores analisam os dados da inflação no Brasil e a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir uma diretora do Federal Reserve (Fed), que é o banco central dos EUA.
Às 14h16, o dólar subia 0,6%, sendo cotado a R$ 5,4465. No mesmo horário, o índice Ibovespa caía 0,62%, aos 137.156 pontos.
Essa queda do Ibovespa foi influenciada pela baixa de quase 3% nas ações da Sabesp, que anunciou redução na pressão da água durante a noite por oito horas em São Paulo devido à crise hídrica.
Diferente de outras moedas, o real opera em alta, enquanto o índice DXY, que mede a força do dólar contra outras moedas importantes, caía 0,28% indicando a desvalorização do dólar no mercado internacional.
Segundo João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, o mercado brasileiro está cauteloso com as notícias sobre inflação e as ações de Trump com o Fed, fazendo investidores buscar ativos mais seguros como o dólar, impactando assim a cotação da moeda e a Bolsa.
No dia anterior (segunda, 25), o dólar fechou em queda e a Bolsa teve alta marginal. O índice DXY subiu no mesmo dia.
Na economia brasileira, o IPCA-15, que é uma prévia da inflação oficial, apresentou deflação de 0,14% em agosto, primeira queda em mais de dois anos, resultado divulgado pelo IBGE e impulsionado pela redução dos preços da conta de luz, alimentos e gasolina.
Apesar disso, o mercado esperava uma queda maior na inflação, refletida em projeções de analistas.
Leonel Mattos, analista da StoneX, alerta que os números ainda não justificam um corte na taxa de juros pelo Banco Central, pois a inflação ainda tem uma composição preocupante, o que deve levar à manutenção da Selic em 15% neste semestre.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta dificuldades nas negociações com os Estados Unidos para reverter as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros impostas por Washington, situação que continua sem avanços.
Na terça-feira, Lula criticou novamente o presidente Trump sobre o tarifação e comentou também sobre a proteção que os EUA dão às suas big techs, ressaltando a soberania nacional brasileira.
As negociações estão paradas e há preocupação com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que deve começar em setembro e pode aumentar as tensões entre os países.
Além disso, há receios sobre o impacto de decisões recentes do STF que limitam validade no Brasil de ordens judiciais e executivas estrangeiras.
Em um cenário internacional, o mercado acompanha a demissão da diretora do Fed, Lisa Cook, feita por Trump na segunda-feira. Cook, a primeira mulher negra na diretoria do Fed, afirmou que não vai renunciar, negando irregularidades atribuídas a ela.
Ela é uma das diretoras com mandato que ultrapassa o governo Trump e que votou pela manutenção da taxa de juros alta em julho, decisão que desagradou o presidente americano.
O possível corte da taxa de juros nos EUA, anunciado pelo presidente do Fed, Jerome Powell, para setembro, é muito observado pelo mercado, pois pode representar impulso para ativos de risco, inclusive de mercados emergentes como o Brasil.
Segundo analistas do BB Investimentos, se o mercado confirmar a mudança na política monetária americana, o Ibovespa pode voltar a alcançar seu recorde histórico próximo a 141.500 pontos.
Para os mercados de ações e câmbio, a redução dos juros nos EUA pode atrair investimentos para países emergentes, impulsionando o real frente ao dólar.
Na B3, destaque para a ação da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que subiu 5,6% após notícias sobre possível venda do controle da empresa.