SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar está subindo nesta terça-feira, refletindo o fortalecimento da moeda americana em relação a outras moedas, com investidores atentos às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O mercado também está de olho na tramitação da MP 1.303 na Câmara e no Senado, que trata de medidas para compensar a redução na cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Por volta das 11h22, o dólar avançava 0,49%, cotado a R$ 5,336. Esse movimento acompanha o cenário internacional, onde o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a outras moedas, subia 0,39%.
Ao mesmo tempo, a Bolsa apresentou queda acentuada de 1,36%, chegando a 141.648 pontos, com a empresa MRV liderando as perdas após a divulgação de seu balanço trimestral.
Em entrevista hoje cedo, Haddad afirmou que espera conversar com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, ainda esta semana. O ministro da Fazenda participará de reuniões em Washington relacionadas ao G20, Banco Mundial e FMI.
“Pode ser que consigamos espaço para um novo diálogo com Scott Bessent“, disse durante entrevista no programa Bom Dia, Ministro, no Canal Gov. “Pretendo até o final da semana confirmar a disponibilidade e interesse.”
Na segunda-feira (6), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump conversaram por telefone sobre economia e comércio.
Trump classificou a conversa como “muito boa”, em postagem na rede Truth Social. “Teremos mais conversas e encontros em breve, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei muito da ligação. Nossos países vão prosperar juntos!”
Segundo o Palácio do Planalto, Lula pediu que Trump retire as tarifas impostas ao Brasil e suspenda medidas restritivas contra autoridades brasileiras. Ainda de acordo com o Planalto, Trump designou seu secretário de Estado, Marco Rubio, para continuar as negociações.
Os líderes combinaram uma reunião presencial em breve, e Lula sugeriu a cúpula da ASEAN, no final de outubro na Malásia, como possível local. Ele também se colocou à disposição para viajar aos EUA e se encontrar com Trump.
Na segunda-feira (6), o dólar fechou em queda de 0,49%, a R$ 5,310, e a Bolsa recuou 0,41%, a 143.608 pontos.
O mercado segue atento às negociações relacionadas à MP 1.303, que visa compensar a revogação do aumento do IOF.
Fernando Haddad afirmou não acreditar que a MP perderá validade, e que as conversas para aprová-la estão avançadas.
“Acredito que a negociação está indo bem, com doses bem administradas, o que nos levará a uma situação melhor.”
A MP deve ser aprovada na Câmara e no Senado até quarta-feira (8) para não perder validade.
O relator da MP, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), retirou o aumento do imposto sobre casas de apostas da proposta devido a resistências dentro da base aliada.
Ele propõe, porém, um programa para tributar casas de apostas que atuaram no Brasil antes da regulamentação — o Regime Especial de Regularização de Bens Cambial e Tributária (RERCT Litígio Zero Bets) — para evitar disputas judiciais cobrando retroativamente o imposto.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o mercado financeiro está volátil devido à MP. “Os principais motivos são a questão fiscal e a votação da MP 1.303. O governo prevê perda de arrecadação e precisa compensar, todavia o aumento das cobranças gera desconforto.”
Para Leonel Mattos, analista da StoneX, o governo terá que fazer concessões para aprovar a medida provisória. “A arrecadação menor trará mais dificuldades para manter o arcabouço fiscal, o que piora as perspectivas fiscais do país.”
Hoje cedo, Haddad também afirmou que a proposta de tarifa zero no transporte público fará parte da campanha de reeleição do presidente Lula em 2026.
Segundo Haddad, um estudo técnico sobre a viabilidade dessa medida está em curso por determinação do presidente.
“Estamos realizando um diagnóstico do setor a pedido do presidente Lula. Ele sabe da importância do tema para trabalhadores, meio ambiente e mobilidade urbana”, disse.
Para Mattos, a possibilidade estudada pelo Ministério da Fazenda elevou a percepção de risco entre investidores. “Há temor que o governo aumente gastos públicos antes das eleições de 2026, o que poderia prejudicar a sustentabilidade da dívida nacional.”
No cenário internacional, o mercado segue atento ao shutdown do governo dos EUA, que limita a divulgação de dados oficiais, como o relatório de emprego ‘payroll’, que foi adiado indefinidamente.
Investidores se mantêm cautelosos pois esses dados podem indicar a continuidade dos cortes de juros na economia americana. Juros menores nos EUA aliados à perspectiva de juros altos no Brasil podem atrair investidores estrangeiros para a bolsa brasileira.
A agenda da semana é tranquila, mas pode indicar os próximos passos do Federal Reserve (Fed), segundo Bruno Shahini, especialista da Nomad.
“Destaque para as expectativas de inflação do Fed de Nova York na terça, ata do Fed na quarta e índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan na sexta. Discursos do presidente Jerome Powell e outros dirigentes do Fed podem trazer pistas sobre política monetária.”