O dólar aumentou bastante nesta sexta-feira, 10, fechando no maior valor dos últimos dois meses. Essa alta foi causada pela combinação de uma maior insegurança no mercado internacional, devido ao aumento das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, e preocupações com a situação fiscal no Brasil.
Apesar de uma queda rápida no início do dia, quando o dólar chegou a R$ 5,3622, a moeda americana terminou o dia em alta, alcançando uma máxima de R$ 5,5187 e fechando a R$ 5,5037, o maior valor desde agosto.
Essa alta fez o dólar terminar a semana com um ganho de 3,13%, e no mês de outubro, a valorização já soma 3,39%. No acumulado do ano, a desvalorização do real é de 10,95%, após uma queda que já chegou a mais de 14%.
O mercado financeiro está preocupado com uma possível postura populista do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que tem causado a pior performance do real entre as moedas de países emergentes e exportadores de commodities, mesmo com a queda dos preços do petróleo.
Investidores têm procurado ativos mais seguros, como títulos do Tesouro dos Estados Unidos e ouro. O índice DXY, que mede o valor do dólar contra uma cesta de moedas fortes, caiu 0,50%, após atingir recentemente seu maior nível em dois meses.
O economista sênior André Valério, do banco Inter, comentou que houve uma busca por segurança, com o dólar perdendo valor frente a moedas de países desenvolvidos e aumento da procura por metais preciosos, um comportamento parecido com o verificado em abril, quando o então presidente Trump anunciou tarifas recíprocas.
Valério acrescenta que o dólar tem apresentado mais volatilidade devido a medidas recentes do governo, como a derrubada da Medida Provisória que afetava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e as novas políticas de crédito imobiliário que podem comprometer a meta fiscal do ano seguinte.
O dólar começou o dia já em alta, impulsionado por notícias de que o governo prepara um pacote de benefícios sociais que pode custar cerca de R$ 100 bilhões no próximo ano, incluindo isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, distribuição de gás de cozinha, programas educacionais e descontos na conta de luz para milhões de famílias.
Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, afirma que o mercado estava otimista com o ambiente externo, mas agora percebe que o governo adotará uma postura mais populista para cumprir a meta fiscal.
No início da tarde, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defender um aumento significativo nas tarifas sobre produtos chineses, o dólar acelerou sua alta. A China rebateu afirmando que controla as terras-raras para proteger seus interesses nacionais.
Valério observa que os investidores podem ter aproveitado a piora do cenário externo para ajustar posições e realizar lucros, após a valorização recente do real.
Apesar das preocupações fiscais e da sazonalidade que geralmente reduz o fluxo cambial no fim do ano, Valério acredita que a diferença nas taxas de juros entre os Estados Unidos e o Brasil, com possibilidade de novos cortes nos juros americanos e manutenção da Selic em 15%, pode ajudar a conter a pressão sobre o real.
Mercado de Ações
O Ibovespa caiu para cerca de 140 mil pontos, seu menor fechamento desde setembro, acumulando perda de 2,44% na semana, a terceira consecutiva. A queda foi influenciada pela aversão ao risco tanto no cenário nacional quanto internacional.
As ações das principais empresas brasileiras fecharam em baixa, com destaque para quedas da CSN, Hapvida e Braskem, enquanto Engie, Minerva e Suzano tiveram ligeiras altas. As ações da Petrobras também caíram, acompanhando a recente queda no preço do petróleo.
Bruna Centeno, economista da Blue3 Investimentos, comentou que o aumento das taxas de juros futuros e as preocupações fiscais, além das tensões entre EUA e China, levaram o Ibovespa a recuar.
O mercado está mais conservador com o desempenho das ações no curto prazo, com metade dos investidores esperando alta na próxima semana, enquanto 30% prevêem queda.
O governo enfrenta desafios para aumentar a arrecadação após a rejeição de uma medida no Congresso, mas lançou novas iniciativas para facilitar o crédito imobiliário, buscando estimular a economia em um ano eleitoral.
Alison Correia, analista da Dom Investimentos, destaca que as medidas populistas e a proximidade das eleições de 2026 deixam o mercado tenso, refletido no câmbio e no desempenho das ações.
Bruna Sene, analista da Rico, afirma que a correção no Ibovespa é esperada após muitos recordes, e apesar da queda, a tendência de alta a médio e longo prazo permanece, podendo ser um momento de oportunidade para compra de ações.
Juros Futuros
O impacto das tensões comerciais entre EUA e China e as preocupações fiscais também afetaram os juros futuros negociados na B3, que subiram principalmente nos prazos intermediários e longos.
Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para os anos futuros apresentaram alta nas taxas, refletindo uma maior percepção de risco no mercado brasileiro.
Laís Costa, analista da Empiricus Research, explicou que o aumento dos juros pode estar relacionado tanto à escalada das tensões comerciais quanto a ajustes técnicos no mercado.
Costa destacou ainda que a relação econômica com a China é crucial para o Brasil, e qualquer instabilidade na economia chinesa afeta diretamente a moeda e os investimentos brasileiros.
A notícia de um possível pacote de estímulos fiscais de R$ 100 bilhões para 2026 e a nova política de crédito habitacional também influenciaram o cenário dos juros.
Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital, considera que os juros futuros refletem uma correção após otimismo excessivo, diante do aumento da inflação, alta do dólar e incertezas fiscais crescentes.
Fonte: Estadão Conteúdo