Na terça-feira, 7, o dólar subiu e chegou a R$ 5,35 devido à valorização da moeda americana no cenário internacional e preocupações sobre a queda na arrecadação causada pelas mudanças na Medida Provisória (MP) que propõe alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O dólar à vista teve máxima em R$ 5,3532 e fechou em alta de 0,74%, em R$ 5,3501, o maior valor de fechamento nos últimos dez dias. Nos primeiros cinco dias úteis de outubro, a moeda americana acumula alta de 0,51%, enquanto no ano acumula queda de 13,43%.
Entre as moedas latino-americanas, o real teve o pior desempenho, sendo a segunda moeda emergente mais prejudicada, atrás apenas do florim húngaro. Parte dessa queda pode ser uma correção após a valorização de segunda-feira, que ocorreu após conversa telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Donald Trump (EUA).
O índice DXY, que mede o dólar contra seis moedas fortes, teve alta de mais de 0,50%, refletindo o aumento do dólar.
Notícias internacionais também influenciaram o cenário, com a crise política na França, decorrente da renúncia do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, e a possibilidade de política fiscal mais flexível no Japão com a nova líder do Partido Liberal Democrata, Sanae Takaichi. Além disso, a paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, que está em seu sétimo dia, aumenta a aversão ao risco e a busca por ativos seguros.
De acordo com a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, a combinação desses fatores globais e a discussão no Congresso brasileiro sobre a MP do IOF, que possivelmente reduzirá a arrecadação prevista, tem elevado a percepção de risco no mercado, afetando principalmente o real.
O relatório da MP, elaborado pelo deputado Carlos Zarattini, retirou algumas propostas de aumento de tributos e manteve isenções importantes, reduzindo a previsão de arrecadação de R$ 20 bilhões para cerca de R$ 17 bilhões em 2026. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou essa previsão e disse esperar a aprovação da MP pelo Congresso ainda nesta terça-feira.
O mercado também reagiu às declarações do ministro sobre um mapeamento do sistema de transporte público a pedido do presidente Lula, que gerou especulações sobre possível redução ou isenção de tarifas de ônibus.
Para a economista da Lifetime, Marcela Kawauti, manter a taxa de câmbio próxima a R$ 5,30 é insustentável dada a fragilidade fiscal do país, especialmente com a possibilidade de aumento de gastos em um ano eleitoral.
Bolsa
O Ibovespa teve o segundo dia consecutivo de queda, registrando a maior baixa percentual desde 19 de agosto, fechando em 141.356 pontos, recuo de 1,57%. O volume financeiro foi de R$ 24,4 bilhões. Na semana, o índice caiu 1,97%, e no mês, 3,34%, porém acumula ganho de 17,52% no ano.
O dia foi negativo para as ações de maior liquidez, especialmente no setor financeiro e no setor siderúrgico, como as ações da CSN (ON -3,78%) e Usiminas (PNA -3,49%). A Vale ON caiu 1,41% e a Petrobras terminou o dia com leve alta.
Algumas ações se destacaram negativamente, como MRV, que caiu 12,12% após divulgar resultados operacionais abaixo do esperado, influenciando também queda nas ações de outras empresas do setor imobiliário.
A economista Paloma Lopes, da Valor Investimentos, acredita que apesar das declarações amigáveis dos presidentes Lula e Trump, as empresas permanecem cautelosas diante das incertezas políticas e econômicas.
Conforme Paulo Silva, cofundador da Consultoria Advisory 360, o mercado internacional também enfrenta incertezas com relação à política monetária do Federal Reserve (Fed), influenciadas por dados recentes de atividade e inflação nos EUA.
Na terça-feira, os principais índices de ações em Nova York recuaram, com o S&P 500 e Nasdaq caindo 0,38% e 0,67%, respectivamente.
O presidente do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, apontou sinais de estagflação na economia americana, destacando a desaceleração do mercado de trabalho e inflação persistente acima da meta de 2%. Ele ressaltou a importância de decisões fundamentadas em análises cuidadosas pelo comitê de política monetária do Fed.
Juros
Os juros futuros de longo prazo subiram nesta terça-feira, impulsionados por preocupações fiscais renovadas decorrentes da Medida Provisória 1.303, que propõe alternativas ao aumento do IOF. As taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para 2027 a 2031 aumentaram, contrariando a queda dos rendimentos dos títulos americanos.
O novo relatório da MP, apresentado pelo deputado Carlos Zarattini, reduziu a arrecadação prevista para 2026, mantendo isenções fiscais importantes. Caso a MP não seja aprovada até quarta-feira, pode caducar, aumentando a pressão para que o governo encontre outras fontes de receita.
Além disso, a proposta, ainda incipiente, de reduzir ou zerar tarifas de transporte público tem gerado volatilidade nos mercados, com preocupação sobre o impacto fiscal dessas medidas.
O economista João Oliveira, da One Investimentos, destaca que o risco fiscal crescente tem sido o principal motor da alta nos juros futuros. Ele observa que, com as eleições se aproximando, as medidas expansionistas podem se intensificar, mantendo prêmios de risco elevados nas taxas longas.
A XP Investimentos aponta que embora o cenário-base para as contas públicas não tenha mudado, os riscos aumentaram, devido a possíveis aumentos em programas sociais e outras renúncias fiscais, o que pode elevar a dívida pública de 78,9% para 83,1% do PIB entre o final de 2025 e 2026.
Fonte: Estadão Conteúdo