O dólar aumentou seu valor à tarde desta quinta-feira (9), influenciado pela valorização da moeda americana em relação a outras moedas no exterior e pela queda no preço do petróleo, motivada por um acordo de paz na Faixa de Gaza. O real brasileiro teve um desempenho ruim entre as moedas emergentes, reagindo negativamente após a Câmara dos Deputados derrubar uma Medida Provisória (MP) que buscava alternativas para o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Após atingir uma alta de R$ 5,3796, o dólar fechou a sessão aos R$ 5,3750, seu maior fechamento desde 11 de setembro. O dólar acumula alta de 0,72% na semana e quase 1% nos primeiros dias de outubro, embora esteja mais baixo em relação ao início do ano.
Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, aponta que as preocupações fiscais voltaram a pesar em relação ao real, devido ao impacto da rejeição da MP que resultou em perda de receita e aumento de despesas estimados em cerca de R$ 30 bilhões para o próximo ano, gerando incerteza sobre a execução do orçamento.
Apesar da inflação de setembro surpreender positivamente e indicar desaceleração, a expectativa é que o Banco Central mantenha a taxa Selic alta pelo menos até janeiro de 2024, o que atualmente reduz o interesse por posições em dólar e limita a desvalorização do real.
Nilton David, diretor de política monetária do Banco Central, destacou que o movimento do dólar em 2023 reflete um padrão semelhante ao do ano passado, com o real tendo se valorizado contra outras moedas, e ressaltou que o BC não estabelece uma taxa de câmbio fixa, intervindo apenas em situações excepcionais.
O índice do dólar frente a uma cesta de moedas fortes voltou a subir, atingindo 99.505 pontos. A moeda americana sofre influência de incertezas políticas na Europa, no Japão e do shutdown nos EUA, que permanece em sua nona dia consecutivo.
Michael Barr, diretor do Federal Reserve, recomendou cautela na política monetária devido à incerteza econômica e risco de alta da inflação caso os juros sejam cortados prematuramente.
Mercado de ações
A rejeição da MP gerou volatilidade na bolsa brasileira, com o Ibovespa oscilando entre 141 mil e 143 mil pontos, refletindo incertezas sobre o ajuste fiscal e a arrecadação futura do governo. Especialistas indicam que a dificuldade política pode levar a mudanças nas metas fiscais e pressão por aumento de impostos, o que preocupa o mercado.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, e Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença, destacam que o mercado avalia os impactos fiscais com atenção, enquanto Bruna Centeno, da Blue3 Investimentos, aponta que complicações na aprovação de medidas para ampliar a arrecadação persistem.
Tiago Sbardelotto, economista da XP, observa que o governo pode tentar restabelecer aumentos no IOF, excluindo operações consideradas inconstitucionais, e talvez realoque o conteúdo da MP rejeitada em um novo projeto de lei, focando em medidas que aumentem arrecadação e controlando gastos para manter o teto fiscal.
A bolsa fechou levemente em baixa, com giro moderado, e analistas destacam a importância da desaceleração da inflação de serviços para a economia, o que pode influenciar o discurso do Banco Central sobre a manutenção da Selic.
Juros
Os juros futuros caíram em resposta ao IPCA de setembro, que mostrou uma inflação abaixo do esperado, mesmo com o dólar valorizado e aumento nos títulos americanos. A rejeição da MP também contribuiu para essa queda, eliminando a possibilidade de um aumento da alíquota do Imposto de Renda que poderia afetar os mercados.
As taxas dos contratos de Depósitos Interfinanceiros para os próximos anos apresentaram diminuição, refletindo um mercado mais aliviado.
O IPCA de setembro mostrou uma leve alta de 0,48%, com sinais positivos na parte industrial e nos serviços, o que traz maior confiança ao mercado sobre a convergência da inflação à meta nos próximos meses.
Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, destaca que os serviços subjacentes tiveram alta menor que o esperado, e isso ajuda a aumentar as chances de corte da Selic no início de 2026, tornando as condições para a política monetária menos rígidas.
Carlos Lopes, economista do BV, ressalta a descompressão em alguns grupos importantes da inflação e espera que, se a tendência continuar, os juros possam ser reduzidos no começo do próximo ano.
Andrea Damico, economista-chefe da Buysidebrazil, atribui a queda dos juros futuros também à organização da oposição política e à percepção positiva da derrota da MP, que evitou mudanças fiscais consideradas negativas para o mercado.