O dólar começou o dia em alta nesta terça-feira (28), enquanto os investidores aguardam a decisão do Fed (Banco Central dos EUA) sobre as taxas de juros, que será anunciada na quarta-feira (29), e as negociações comerciais entre os governos dos Estados Unidos e da China, programadas para quinta-feira (30).
Por volta das 9h21, o dólar apresentava uma alta de 0,21%, cotado a R$ 5,382. Na segunda-feira (27), a moeda americana caiu 0,41%, fechando em R$ 5,370, enquanto a Bolsa de Valores do Brasil atingiu um novo recorde histórico, com alta de 0,54%, chegando a 146.969 pontos.
O Comitê de Política Monetária do Fed, conhecido como Fomc, realiza reuniões nesta terça e quarta-feira para decidir o rumo das taxas de juros nos Estados Unidos. Espera-se um novo corte na taxa, que atualmente está entre 4% e 4,25%, dando continuidade à política de redução iniciada na reunião anterior. Operadores do mercado acreditam que há quase 100% de chance de redução de 0,25 ponto percentual, conforme o indicador CME FedWatch.
Os dados mais recentes mostram que a inflação medida pelo índice de preços ao consumidor (CPI) ficou em 3% nos últimos 12 meses até setembro, uma leve alta em relação aos 2,9% de agosto, mas abaixo da previsão de 3,1% feita por economistas consultados pela Bloomberg.
De acordo com Eswar Prasad, economista da Universidade Cornell, esses números praticamente garantem o corte na taxa de juros na próxima reunião do Fed.
O Banco Central americano considera que o maior risco está na desaceleração do mercado de trabalho e não em um aumento da inflação, o que deve guiar a decisão na reunião.
Geralmente, cortes nas taxas de juros nos EUA são vistos como positivos para os mercados globais. Isso porque a economia americana é considerada a mais estável do mundo, e os títulos do Tesouro (chamados de “treasuries”) são investimentos quase sem risco. Quando as taxas de juros estão altas, esses títulos atraem investidores, que tiram o dinheiro de outros mercados. Quando os juros baixam, os investidores buscam diversificar, aumentando os investimentos em outras áreas.
No Brasil, a diferença entre as taxas de juros dos EUA e do país favorece os investimentos locais. Quando a taxa americana cai e a Selic brasileira permanece alta, investidores aproveitam essa diferença para aplicar recursos no Brasil, processo conhecido como “carry trade”. Isso significa tomar empréstimos a juros baixos nos EUA para investir em ativos com juros mais altos no Brasil, o que aumenta a demanda por reais e tende a desvalorizar o dólar.
Além disso, as perspectivas de um acordo comercial entre os Estados Unidos e a China incrementam o interesse por investimentos de maior risco nesta sessão. Donald Trump afirmou que os dois países estão preparados para resolver o impasse recente sobre a exportação chinesa de terras raras, que foi limitada no começo do mês pelo governo de Xi Jinping.
Em resposta, Trump ameaçou impor sobretaxas de 100% sobre produtos chineses. Os dois líderes devem se encontrar no final desta semana na Coreia do Sul para discutir essas questões.
Trump declarou ter respeito pelo presidente Xi e acredita que um acordo será alcançado, considerando a situação muito interessante.
Na segunda-feira, o recorde da Bolsa teve continuidade após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, que ocorreu no domingo em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a cúpula da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático).
Segundo membros do governo brasileiro, Trump mostrou abertura ao diálogo com Lula, reconhecendo pontos importantes e aceitando a urgência nas negociações, tornando o encontro extremamente positivo.
O chanceler Mauro Vieira informou que Trump orientou sua equipe a iniciar um processo de negociações bilaterais ainda na manhã de segunda-feira no Brasil, com a intenção de concluir os acordos em pouco tempo. O pedido para que os negociadores dos dois países conversassem no mesmo dia partiu do presidente Lula e foi aceito por Trump.
O diálogo foi franco, e Lula deixou claro que a motivação dos Estados Unidos para aumentar tarifas para outros países não se aplica ao Brasil, devido ao superávit na balança comercial entre os dois países, afirmando isso várias vezes.
Embora não se espere um anúncio imediato, a expectativa é que alguma definição venha nas próximas semanas.
Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital, avaliou que o encontro foi um passo importante para diminuir tensões que afetaram setores do mercado brasileiro. Para os investidores, porém, isso representa uma oportunidade, não uma solução definitiva.
Os avanços dependerão das etapas de negociação e, principalmente, da capacidade do Brasil de transformar essa abertura diplomática em sinais claros de previsibilidade econômica.
Ele ressaltou que, se as equipes conseguirem um acordo que inclua suspensão temporária das tarifas e um plano claro para redução progressiva, haverá redução do prêmio de risco e oportunidades atrativas para investimentos; caso contrário, a incerteza continuará afetando negativamente os ativos e os investimentos.
Mesmo assim, o mercado está otimista, vendo os dois países caminhando para uma solução que pode ser a eliminação total das sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros ou a redução das alíquotas.
