O dólar fechou quase sem variação nesta sexta-feira, cotado a R$ 5,3366 (-0,05%). Após uma leve alta no começo do mês, a moeda estrangeira termina a semana praticamente estável, com pequena alta acumulada neste ano de 13,65% de queda.
Pela manhã, o dólar chegou a ultrapassar R$ 5,35, alcançando máxima de R$ 5,3620. Operadores afirmam que essa oscilação se deve a realização de lucros e movimentos especulativos, motivados pelas incertezas nas eleições presidenciais.
Segundo a Folha de S.Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria aceitado apoiar uma possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao Planalto, caso a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro integre a chapa como vice.
Analistas avaliam que parte do mercado aposta em uma possível mudança na política econômica em 2027, com foco na austeridade fiscal, caso a direita volte ao poder.
Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, comenta que essa é a única notícia que sugere uma possível solução para o problema fiscal no futuro. Portanto, o dólar tem se mantido acima de R$ 5,30, um valor considerado seguro pelo mercado.
A cautela fiscal tem limitado o desempenho do real nos últimos dias, apesar da perda de força do dólar no exterior devido à paralisação parcial do governo dos EUA. O índice DXY, que mede o dólar frente a seis moedas fortes, fechou a semana com queda de cerca de 0,50%.
Há ainda dúvidas quanto à compensação das perdas fiscais do projeto de isenção de IR para salários até R$ 5 mil, e temores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lance novos programas sociais visando à reeleição. Rumores sobre a isenção de tarifas de ônibus circularam, mas foram negados pela equipe econômica.
A economista-chefe da BuysideBrazil, Andrea Damico, afirma que o mercado está preocupado com projetos populares que podem aumentar o risco fiscal, como o da tarifa zero para ônibus, que tem gerado impacto no câmbio.
Em evento da Abimaq, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, disse que 70% da valorização do real desde o início do ano se deve à queda do dólar no exterior. Ele acredita que o câmbio deverá ficar mais próximo de R$ 5,00 do que de R$ 5,50 nos próximos meses, pelo cenário externo.
Bolsa
O Ibovespa apresentou pequena alta de 0,17%, fechando aos 144.200,65 pontos, após oscilar durante o dia entre 143.675,62 e 144.518,29 pontos. O volume financeiro foi de R$ 16,3 bilhões. A semana terminou com recuo de 0,86% após duas semanas consecutivas de queda. A recuperação observada à tarde foi impulsionada pela notícia da possível candidatura de Michelle Bolsonaro a vice de Tarcísio de Freitas.
Entretanto, o avanço foi limitado e a cautela prevaleceu, mesmo com índices americanos como Dow Jones e S&P 500 mostrando alta e a Bolsa de Londres em nível recorde. O Senado dos EUA novamente rejeitou propostas para encerrar a paralisação do governo, o que mantém o shutdown ativo.
A analista Bruna Sene avalia que o Ibovespa está em momento de ajuste e pode testar suportes importantes. Ela destaca também que a temporada recente de resultados corporativos tem sustentado o interesse dos investidores, apoiados por um ambiente externo mais favorável e expectativa de juros mais baixos nos EUA e Brasil.
A alternância entre setores fortes e fracos, juntamente com o desconforto fiscal, tem gerado realização de lucros e volume fraco no mercado. A economista-chefe da B.Side, Helena Veronese, ressalta que o ambiente político próximo às eleições de 2026 traz incertezas para o câmbio.
Os investidores buscam equilibrar oportunidades em renda variável e investimentos ligados à taxa Selic atualmente elevada. Na B3, commodities como Vale e Petrobras tiveram desempenho negativo, enquanto segmentos como saúde e varejo apresentaram ganhos expressivos no dia.
Christian Iarussi, economista da The Hill Capital, destaca que a fraqueza global do dólar prevaleceu sobre o desconforto fiscal local, e que a produção industrial positiva também apoiou o real, apesar das incertezas políticas.
Segundo o Termômetro Broadcast Bolsa, a expectativa de alta para o Ibovespa na próxima semana caiu ligeiramente, enquanto estimativas de estabilidade e queda aumentaram.
Juros
Os juros futuros fecharam a sexta-feira com alta firme, pressionados pelo aumento do risco fiscal após a aprovação do projeto de reforma do Imposto de Renda na Câmara. A produção industrial acima do esperado em agosto também contribuiu para a alta.
Os contratos de DI para janeiro de 2027, 2028, 2029 e 2031 registraram elevações nas taxas de juros, refletindo maior aversão ao risco. O sócio e economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio Leal, comentou que rumores sobre redução ou gratuidade da tarifa de ônibus aumentaram a cautela do mercado.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe da EPS Investimentos, afirmou que o dado da produção industrial reforçou o movimento de alta dos juros diante das preocupações fiscais crescentes.
No balanço semanal, a inclinação da curva de juros aumentou, com tendências de elevação nos juros longos. A equipe econômica do Santander analisou que a incerteza fiscal renovada após a aprovação da isenção do IR impactou negativamente os mercados de juros.
O Santander revisou para baixo suas previsões de inflação para 2025 e 2026, mas manteve a perspectiva de política monetária rígida pelo menos até janeiro, com possível adiamento do início da redução dos juros para março, dado que a inflação segue acima da meta e o Comitê de Política Monetária mantém posicionamento conservador.
Fonte: Estadão Conteúdo