Com índices distantes dos recordes do ano passado, especialistas apontam as razões que devem nortear a alocação de ativos em outros mercados
Depois de atingir recordes de pontuação no fim do ano passado, os principais índices de ações das bolsas americanas, bem como o dólar, passaram a se desvalorizar desde o início de 2022.
Desde o fim de 2021 até a sessão da última terça-feira, dia 19 de abril, o S&P 500 perdeu cerca de 6,5% em pontuação. Já o índice Nasdaq 100 desvalorizou cerca de 13% no mesmo período. O dólar, cotado a R$ 5,58 no fechamento do ano passado, encerrou a sessão da terça negociado a R$ 4,67, uma queda de 16,3%.
Os índices ensaiam uma recuperação em meio à precificação do aperto monetário iniciado pelo Fed. O banco central americano subiu a taxa de juros em 0,25 ponto percentual em março e sinalizou mais seis aumentos ao longo do ano.
Mas aumentam as apostas de que a escalada dos juros possa ser mais agressiva, com aumentos de 0,50 ponto percentual, em razão da inflação em níveis mais elevados que o esperado. E isso aumenta a volatilidade no mercado.
E agora, o que fazer?
Nesse cenário, investidores que começaram a investir lá fora em anos recentes, em um momento de mercado em alta, podem se perguntar se ainda vale a pena continuar a aplicar no exterior. Para especialistas, não restam dúvidas de que sim.
William Eid, professor do Centro de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Cef), afirmou que entre as vantagens do investimento do exterior está a diversificação do risco econômico e político, além do acesso a mercados inexistentes no país. “A economia americana é uma das mais pujantes mundo. Nos últimos cinco anos, o S&P 500 (índice que reúne 500 das maiores empresas americanas) dobrou.”
Para Willian Castro Alves, sócio da Avenue, muitos clientes enxergaram no momento de baixa do mercado uma oportunidade. Como consequência, a corretora voltada para o investimento de brasileiros no exterior registrou recorde de captação em março, de R$ 500 milhões, atingindo R$ 1,5 bilhão em ativos sob gestão.
“Muita gente estava esperando o dólar cair para começar a investir ou aplicar mais. Com o real mais valorizado, é possível pagar menos por uma ação que já está mais barata. É um duplo desconto”, afirmou.
A diversificação de investimentos, disse Castro, é uma tendência global. “O americano diversifica seus investimentos em mais de um país. Por que o brasileiro não iria fazer isso? O rating do Brasil é semelhante ao de Bangladesh, e não ao dos Estados Unidos e da Dinamarca. Nós corremos risco por aqui.”
“O país é emergente: cresce pouco e volta e meia passa por crises econômicas. Já temos nossa renda futura atrelada ao Brasil, no mercado de trabalho. Por que ter todos os investimentos aqui também?”, questionou.
Eid ressaltou que a alocação de parte do patrimônio no exterior deve ter objetivos de longo prazo. “Quem tenta achar a hora certa de entrar e sair do dólar erra sempre: poucos acertam. O câmbio só é neutro em períodos mais longos. Quem investe no curto prazo não usufrui desse benefício”, disse o professor da FGV-Cef.
Mais cautela na alocação
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual, aconselhou cautela na escolha dos setores para os quais direcionar os investimentos no exterior agora. “A alta dos juros [pelo Fed] busca controlar a inflação, e isso impacta alguns setores bem mais do que outros.”
Ele citou como exemplo o setor de tecnologia. “Na última década, as ações de tecnologia registraram as maiores altas na bolsa americana, mas o setor é o mais afetado agora. Isso porque, além de dependerem de um crescimento econômico mais robusto, as empresas do segmento são mais alavancadas porque estão em expansão.”
Portanto, aconselhou o especialista, é o momento de fugir de ações “da moda” ou do investimento em índices genéricos. “Como as empresas de tecnologia têm maior peso nos índices, isso afeta o desempenho desses produtos e o investidor fica mais exposto a elas.” A fatia de investimentos lá fora, afirmou, deve seguir em renda variável. “Muitos investidores olham agora para empresas da velha economia. Grandes petrolíferas e bancos lá fora vêm performando bem.”