O dólar teve uma pequena queda na última quarta-feira, acompanhando a tendência da moeda americana no mercado internacional. Mesmo com dúvidas nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China, os investidores mostraram interesse por ativos de maior risco, como ações e moedas de países emergentes, devido à expectativa de novos cortes nos juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.
O valor mínimo do dólar foi registrado no final da manhã, com a cotação atingindo R$ 5,4338. Durante a tarde, a queda desacelerou, influenciada pela baixa nos preços do petróleo. No fechamento, o dólar estava cotado a R$ 5,4624, o que representa uma queda de 0,14%. Na semana, a moeda recuou 0,75%, embora ainda tenha apresentado alta de 2,62% durante o mês de outubro.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, afirmou que o mercado local está reagindo principalmente ao movimento da moeda no exterior, influenciado por declarações dos dirigentes do Fed sobre um mercado de trabalho mais fraco nos Estados Unidos. Ele destacou que a expectativa é de novos cortes na taxa de juros, mas ainda é necessário avaliar o impacto da paralisação parcial do governo americano (shutdown) na economia.
Stephen Miran, diretor indicado pelo presidente Donald Trump para o Fed, comentou em um evento da CNBC que acredita em mais dois cortes de juros ainda este ano. Ele indicou que as decisões do Fed devem ser baseadas em projeções, e não apenas em dados recentes, divergindo das declarações do presidente do Fed, Jerome Powell.
O Livro Bege, documento do Fed que traz informações sobre a economia americana, indicou estabilidade no mercado de trabalho nas últimas semanas, mas apontou aumento nos preços devido ao custo maior de insumos causado pelas tarifas comerciais. Essas informações não causaram grandes mudanças na cotação do dólar.
O Dollar Index, que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes, apresentou queda de cerca de 0,30%, ficando em 98.700 pontos no fim do dia. Entre as moedas emergentes, o peso colombiano se destacou com valorização superior a 0,70% frente ao dólar.
Rafael Prado, economista da GO Associados, atribuiu a queda global do dólar à diminuição das tensões comerciais entre EUA e China e ao tom mais favorável do Fed. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, confirmou que as negociações entre os dois países continuam e espera um encontro entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping no final de outubro, na Coreia do Sul, embora não tenha descartado novas medidas contra a China.
Prado vê possibilidade de valorização do real com a confirmação de cortes de juros pelo Fed, mas alerta para o impacto das remessas de dinheiro para o exterior no final do ano e para questões fiscais locais que podem trazer volatilidade ao câmbio.
O Banco Central brasileiro informou que o fluxo cambial foi positivo em US$ 501 milhões até o dia 10 de outubro, com saldo positivo no comércio exterior e saída de recursos pelo canal financeiro. No acumulado do ano, o fluxo cambial permanece negativo em US$ 16,841 bilhões.
Mercado de Ações
O índice Ibovespa apresentou ganhos moderados, alcançando a marca dos 142 mil pontos no fechamento, apesar da queda das ações da Petrobras e do Banco do Brasil. Estas últimas foram pressionadas por indicações de que o banco será acionado para ajudar na crise dos Correios.
O índice oscilou ao longo do dia entre 141.153,91 e 142.905,10 pontos, fechando em alta de 0,65%. O volume financeiro chegou a R$ 45,5 bilhões. Na semana, o Ibovespa avançou 1,37%, mas ainda registra queda de 2,48% no mês e alta de 18,56% no ano.
Entre as maiores altas do dia estiveram as ações da Assaí, MRV e RD Saúde. Já Embraer, Brava e Prio tiveram queda. Entre as empresas de maior peso, Vale fechou em alta, contrariando a queda do minério em Dalian, e bancos como Bradesco e Santander também tiveram valorização significativa.
Os preços do petróleo fecharam em baixa, pressionados pelas tensões comerciais e preocupações com excesso de oferta. As perdas foram de cerca de 0,7% nos mercados de Londres e Nova York.
João Soares, cofundador da Rio Negro Investimentos, destacou que o cenário externo favorece o Brasil com a leve desvalorização do dólar e declarações suaves do Fed, que indicam continuidade de cortes nos juros americanos. Isso tem motivado uma diversificação dos investimentos para mercados emergentes.
Leonardo Santana, sócio da Top Gain, ressaltou que o otimismo com os juros americanos baixos tem atraído investimentos estrangeiros para o mercado brasileiro, ainda que haja realização de lucros recente.
Juros
Os juros futuros de prazos intermediários e longos fecharam em leve queda, impulsionados pela expectativa de continuidade do afrouxamento da política monetária pelo Fed em outubro. Já os juros de prazos mais curtos subiram em resposta a declarações do diretor de política monetária do Banco Central, Nilton David, e dados mais positivos do varejo.
Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para os anos de 2027 a 2031 apresentaram variações pequenas, com algumas altas e baixas discretas.
Scott Bessent também pediu ao Banco Mundial que interrompa o apoio à China, em meio a um cenário de tensões comerciais agravadas pelas tarifas americanas anunciadas por Trump.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destacou que a China é o único país que resiste firmemente à política de tarifas dos Estados Unidos, e que a tensão no comércio deve se intensificar no próximo mês com o início das tarifas adicionais.
Stephen Miran defendeu a rapidez na redução dos juros nos EUA, reforçando a expectativa de mais um corte no Fed Funds em breve, trazendo alívio para o mercado de renda fixa brasileiro.
Nilton David reafirmou que o Banco Central brasileiro manterá a taxa básica de juros em patamar elevado por mais tempo para controlar a inflação, mesmo diante de maior incerteza econômica.
O aumento nas vendas do varejo entre julho e agosto motivou maior interesse no mercado, com resultados positivos acima do esperado.
Estadão Conteúdo