O dólar encerrou o dia em leve baixa, fechando a R$ 5,3597, o menor valor desde o início do mês. O real se valorizou devido ao fluxo favorável para a bolsa brasileira e ao apetite dos investidores pelo risco, que aguardam um possível corte de juros nos EUA na próxima quarta-feira pelo Federal Reserve (Fed).
Os investidores estão cautelosos, evitando grandes apostas enquanto aguardam sinais mais claros sobre as negociações comerciais internacionais. Além disso, a ausência de dados econômicos relevantes dos Estados Unidos, devido ao shutdown, mantém o mercado em compasso de espera.
Segundo Alexandre Viotto, head de banking da EQI Investimentos, o ambiente externo continua favorável para os ativos brasileiros a curto prazo, graças à postura firme do Banco Central e ao clima positivo com a aproximação entre os líderes Lula e Trump. O recuo da ameaça de tarifas maiores por parte de Trump também ajudou a melhorar o sentimento do mercado.
Embora otimista, Viotto alerta que o real pode enfrentar alguma desvalorização até o final do ano, com o dólar podendo voltar a alcançar a marca de R$ 5,50 devido ao aumento sazonal das remessas ao exterior. O Banco Central já interveio recentemente no mercado e pode continuar atuando para controlar a cotação.
No cenário internacional, o dólar perdeu valor frente a outras moedas fortes, com exceção da libra, e em relação à maioria das moedas emergentes e de exportadores de commodities. O peso argentino, por exemplo, sofreu queda significativa, reflexo das recentes eleições legislativas no país.
Espera-se que o Fed anuncie um novo corte de 25 pontos-base na taxa de juros americana, o que deve enfraquecer o dólar. Essa perspectiva, somada à manutenção da taxa Selic pelo Banco Central do Brasil, favorece o real, que pode continuar mais estável mesmo diante da pressão do fluxo financeiro no fim do ano.
Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex Bank, destaca que o real apresenta uma das melhores relações entre risco e retorno entre as moedas principais, o que pode sustentar sua valorização no futuro próximo.
Mercado de Ações
O Ibovespa fechou em alta, atingindo 147.428,9 pontos, um recorde histórico de fechamento. O otimismo dos investidores é influenciado pela expectativa de corte de juros nos EUA e pela possibilidade de um acordo comercial entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping. A alta foi puxada principalmente por empresas do setor de mineração e siderurgia, beneficiadas pela valorização do minério de ferro.
Segundo a B3, é o décimo sexto recorde do Ibovespa em 2025 e a primeira vez que o índice ultrapassa os 147 mil pontos.
Gustavo Bertotti, head de renda variável na Fami Capital, destaca que o fluxo externo tem grande impacto na Bolsa brasileira, com investidores esperando o corte de juros do Fed para aumentar investimentos em mercados emergentes.
Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimentos, reforça que o possível acordo comercial elevou o preço do minério de ferro, impulsionando as ações das empresas mineradoras.
Além disso, a melhora na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a expectativa de avanço da pauta fiscal no Congresso ajudam a criar um ambiente mais favorável para os investimentos no Brasil, conforme observa o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
No entanto, a queda dos preços do petróleo e as preocupações com excesso de oferta pela Opep+ reduziram o ânimo no final do pregão.
Mercado de Juros
Apesar da estabilidade dos demais ativos, os juros futuros apresentaram alta, especialmente nos vencimentos intermediários e longos, acompanhando movimentos similares na curva americana antes da decisão do Fed, que deve reduzir os juros básicos em 25 pontos-base.
O movimento parece representar uma correção após ganhos recentes nas taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs). Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset, comenta que a pressão na curva pode estar retirando parte do prêmio acumulado, o que é uma reação natural diante da especulação sobre cortes futuros da taxa de juros.
Tiago Hansen, diretor de gestão da Alphawave Capital, destaca que mesmo com dados econômicos mais positivos, os juros futuros subiram, indicando cautela do mercado antes da decisão do Fed.
Luis Felipe Laudisio, cogestor na Warren Investimentos, ressalta o clima de espera no mercado, atento tanto à decisão do Federal Reserve quanto às negociações comerciais entre Estados Unidos e China, previstas para os próximos dias.
Na área fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil está próximo do equilíbrio fiscal, embora estudos indiquem que o texto atual possa gerar déficit. Os investidores permanecem atentos a possíveis novidades que influenciem a trajetória fiscal do país.
