SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar começou esta segunda-feira (27) em queda significativa após a reunião entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em entrevista, Lula afirmou estar confiante de que nos próximos dias o Brasil encontrará uma solução para as tarifas impostas pelos americanos. “Ele garantiu que vamos chegar a um acordo”, disse, se referindo a Trump.
O presidente brasileiro contou que podem acontecer encontros em Washington na próxima semana, e que Trump mostrou interesse em visitar o Brasil.
“Tenho o telefone do presidente Trump e ele tem o meu. Se alguém de nossas equipes errar, sabemos onde está o problema”, declarou.
Às 9h05, o dólar estava caindo 0,53%, cotado a R$ 5,3645. Na sexta-feira (24), a moeda americana subiu 0,13%, cotada a R$ 5,392, enquanto a Bolsa avançou 0,3%, chegando a 146.172 pontos.
Os investidores também reagiram aos dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos.
No Brasil, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a inflação medida pelo IPCA-15 diminuiu para 0,18% em outubro, depois de ter sido 0,48% em setembro.
Essa é a menor taxa para meses de outubro desde 2022, quando foi 0,16%, e está abaixo da mediana das projeções do mercado, que era 0,21%, segundo a Bloomberg.
O IPCA-15 é uma prévia do IPCA, o índice oficial da inflação no país.
Segundo o economista sênior do Inter, André Valério, isso confirma a tendência de queda da inflação.
“A expectativa para os próximos meses é que essa queda continue, devido à redução da pressão nos preços de combustíveis e energia, enquanto o aperto na política monetária ajuda a manter a inflação de serviços e de núcleos em baixa”, explicou.
No entanto, ele destaca que a inflação deve terminar o ano acima do teto da meta, em 4,7%, e que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve começar a cortar juros apenas em janeiro.
O Copom tem como meta uma inflação de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 pontos percentuais para cima ou para baixo, ou seja, entre 1,5% e 4,5% ao ano é a faixa considerada dentro do objetivo.
Na quinta-feira, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que a autoridade monetária está preocupada com o ritmo e as expectativas da inflação.
“Estamos lidando com uma inflação que está diminuindo e voltando à meta, graças a um Banco Central que age com rapidez e cuidado para combater qualquer aumento nos preços”, afirmou.
O mercado espera que o Copom mantenha a taxa Selic em 15% por um tempo prolongado.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) se reúne entre os dias 28 e 29 de outubro para decidir sobre a taxa de juros. O mercado espera mais um corte, hoje entre 4% e 4,25%, seguindo a redução anterior.
Operadores estimam quase 100% de chance de redução em 0,25 pontos percentuais, conforme a ferramenta CME FedWatch.
Os dados da inflação americana divulgados na sexta-feira reforçam essa expectativa. O CPI (Índice de Preços ao Consumidor) subiu 3% nos últimos 12 meses até setembro, um pouco acima dos 2,9% de agosto, mas abaixo da previsão de 3,1% feita por economistas.
Para Eswar Prasad, economista da Universidade Cornell, esses números praticamente garantem o corte de juros pelo Fed.
O Banco Central dos EUA acredita que é mais arriscado uma desaceleração no mercado de trabalho do que um aumento repentino da inflação, e essa visão deve permanecer na próxima reunião.
Apesar do Fed preferir usar o índice PCE para monitorar a inflação, o CPI ganhou importância por causa da paralisação do governo federal americano que suspendeu a divulgação oficial de dados econômicos.
Desde o início da paralisação, no começo do mês, os operadores estão sem informações claras sobre a economia dos Estados Unidos, complicando as decisões do Fed.
O presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu que a paralisação pode se tornar um problema maior no longo prazo para a autoridade monetária, mas por enquanto estão usando informações indiretas para avaliar a economia.
Normalmente, a redução dos juros nos EUA é bem recebida pelos mercados globais. Como a economia americana é a mais forte do mundo, os títulos do Tesouro (chamados de “treasuries”) são considerados investimentos muito seguros.
Quando os juros estão altos, os rendimentos dos treasuries atraem investidores, que retiram dinheiro de outros mercados. Quando os juros caem, os investidores buscam diversificar e mercados alternativos ganham mais atenção.
Para o Brasil, outro fator que favorece os investimentos locais é a diferença de juros.
Quando os juros americanos caem e a taxa Selic brasileira permanece alta, os investidores aproveitam essa diferença para fazer “carry trade”: tomam dinheiro emprestado a juros baixos nos EUA para investir aqui, comprando reais e desvalorizando o dólar.
“Com o CPI fraco e o possível corte de juros pelo Fed, não seria surpresa o real se valorizar e o dólar se aproximar de R$ 5,30 novamente”, avaliou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
