O dólar encerrou o dia com uma leve queda, sendo negociado a R$ 5,31, em meio a um cenário favorável para moedas de países emergentes. Durante a manhã, a moeda americana teve uma queda significativa, chegando a R$ 5,2882, mas recuperou terreno à tarde, atingindo o pico de R$ 5,3164. No fechamento, o valor do dólar caiu 0,05% em relação ao dia anterior.
Os operadores do mercado atribuem esse movimento a ajustes de posições e realização de lucros, já que muitos investidores ainda estão cautelosos com a possibilidade do câmbio permanecer abaixo de R$ 5,30. Além disso, a valorização das taxas dos títulos do governo americano, conhecidos como Treasuries, impactou negativamente a valorização das moedas emergentes.
O índice DXY, que mede o valor do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, subiu para 99,000 pontos, influenciado pela possível alta na taxa de juros do Japão, apesar do fortalecimento do iene.
Nas últimas sessões, o dólar recuou frente ao real em 0,91%, e acumula queda de 0,46% no início de dezembro. No acumulado do ano, a queda chega a 14,07%.
Ricardo Chiumento, superintendente da Tesouraria do BS2, comentou que dezembro é um mês em que muitas multinacionais enviam lucros e dividendos para o exterior, o que influencia esse movimento de realização de lucros. Ele ainda destaca que a recente alta do real foi estimulada pela expectativa de cortes na taxa de juros do Federal Reserve, que ocorrem devido a dados econômicos fracos nos Estados Unidos.
Outro dado relevante foi a pesquisa ADP, que mostrou perda de vagas no setor privado americano, reforçando as chances de o Fed reduzir os juros em 25 pontos-base em sua próxima reunião. O mercado já vê uma probabilidade de 90% para esse corte.
Além da decisão do Fed, o Banco Central do Brasil reúne seu Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima quarta-feira, 10, para discutir a manutenção ou ajuste da taxa Selic, atualmente em 15%. A economia brasileira cresceu 0,1% no terceiro trimestre, número menor do que a mediana das projeções, indicando um enfraquecimento do consumo das famílias.
Economistas avaliam que a política monetária restritiva já está começando a limitar o crescimento econômico e a controlar a inflação. Com a provável redução da taxa de juros nos Estados Unidos e a manutenção da Selic elevada, o diferencial de juros entre Brasil e exterior deve favorecer as operações de carry trade, nas quais investidores buscam retorno aproveitando essa diferença.
O Tesouro Nacional vendeu integralmente uma oferta de NTN-F, título público preferido por investidores estrangeiros, no volume de R$ 2,325 bilhões.
A taxa Selic alta também dificulta manter posições em dólar, o que ajuda a diminuir o impacto do aumento das remessas de divisas para o exterior no câmbio. O Banco Central já indicou que atuará para garantir liquidez no mercado de câmbio, tanto por meio de linhas com cláusulas de recompra quanto pela venda eventual de dólares no segmento spot, o que desestimula apostas contra o real.
Desempenho da Bolsa
O Ibovespa continua em uma forte trajetória de alta, alcançando 164.455,61 pontos, e marcando uma valorização de 1,67% na sessão atual. O índice tem acumulado um ganho de 3,38% somente nesta primeira semana de dezembro, renovando recordes nos últimos três pregões.
O volume financeiro negociado no dia foi de R$ 31,1 bilhões. No ano, o índice acumula avanço de 36,72%, próximo do que foi visto em 2016, quando o índice subiu quase 39%.
Entre os destaques do dia estão as ações da Vale ON, que subiram 1,74%, Itaú PN, com alta de 2,46%, e Petrobras, que apresentou ganhos moderados. Por outro lado, algumas empresas tiveram desempenho negativo, como C&A e Lojas Renner.
Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos, atribui a alta do Ibovespa à queda dos juros futuros americanos em função da expectativa de cortes na taxa de juros do Federal Reserve. Ele destaca também o impacto positivo do pagamento de dividendos maiores pelas empresas para evitar a elevação da tributação.
Antonio Ricciardi, economista do Daycoval, ressalta a percepção favorável ao PIB do terceiro trimestre, especialmente pelo desempenho do setor agrícola e o enfraquecimento do consumo, o que pode ajudar a política monetária. Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, atribui a valorização do real a essa expectativa de cortes nos juros americanos e à recuperação global dos preços das commodities.
Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos, comenta que o PIB veio um pouco abaixo do esperado, o que influenciou a abertura do mercado, e destaca que ainda há cautela em relação a questões fiscais e tarifárias, o que mantém a necessidade de atenção dos investidores.
Juros Futuros
Os juros futuros negociados na B3 seguiram em queda, com taxas recuando em toda a curva, influenciadas pelo resultado fraco do PIB do terceiro trimestre. Isso reforça o entendimento de que a política monetária está tendo efeito sobre a atividade econômica.
Com essa nova leitura, as apostas em uma redução da Selic em janeiro aumentaram, enquanto o mercado aguarda o comunicado do Copom para sinais menos conservadores do Banco Central.
As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para 2027, 2029 e 2031 apresentaram leves quedas ao final do pregão.
Gean Lima, gestor de portfólio da Connex Capital, avalia que a probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom em janeiro subiu para 77%, devido ao desempenho do PIB que indica moderação no consumo das famílias.
O consumo das famílias no trimestre praticamente não avançou, tendo crescimento de apenas 0,1%, enquanto o setor de serviços desacelerou. A revisão do PIB de trimestres anteriores pelo IBGE também indicou ajustes menores no crescimento econômico.
Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, considera que essa desaceleração é um sinal claro de que a política monetária está funcionando, trazendo alívio para o mercado.
Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa econômica do banco Pine, destaca que o consumo menor é resultado da desaceleração do mercado de trabalho, restrições do crédito e maior endividamento das famílias. Oliveira acredita que o Banco Central poderia cortar a taxa de juros na próxima reunião, porém, aguarda um momento mais oportuno, possivelmente em janeiro.
Com essas informações, o cenário sugere que o ciclo de cortes na Selic pode começar já no início de 2026, acompanhando a tendência global de redução dos juros.

