FOLHAPRESS
O dólar caiu nesta sexta-feira (17), em meio à atenção do mercado sobre as negociações de tarifas de importação dos Estados Unidos com Brasil e China.
Com uma agenda econômica tranquila hoje, os investidores avaliam também um novo fator de preocupação: a situação financeira dos bancos regionais nos EUA.
Existem receios de que uma bolha de crédito possa estourar, segundo suspeitas de fraudes em empréstimos ligados a fundos imobiliários e pedidos de falência em empresas endividadas, o que aumenta as dúvidas sobre a estabilidade dos bancos norte-americanos.
Por volta das 12h21, o dólar caiu 0,25%, cotado a R$ 5,428. Ao mesmo tempo, a bolsa brasileira avançou 0,43%, alcançando 142.813 pontos, movimento contrário ao desempenho de Wall Street, onde os temores sobre o sistema bancário americano impactaram os índices.
Na quinta-feira passada, Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, e Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, se reuniram na Casa Branca.
Após o encontro, o governo americano divulgou comunicado afirmando que as conversas foram muito positivas, com um cronograma de trabalho definido.
Esse comunicado conjunto não é habitual no Departamento de Estado, o que indica boa sintonia entre as partes.
O representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, junto de Rubio e Mauro Vieira, declarou que houve “conversas muito positivas sobre comércio e questões bilaterais”.
Segundo a declaração, as autoridades concordaram em colaborar e realizar discussões em várias frentes próximas, preparando um caminho conjunto de trabalho. Também sinalizaram para um encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump na primeira oportunidade possível.
Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, comentou: “É o começo de uma série de conversas, ainda há muito a avançar e resultados concretos virão com o tempo. O fato de autoridades brasileiras e americanas se reunirem oficialmente traz mais otimismo para os investidores”.
Por outro lado, a tensão entre Estados Unidos e China tem reduzido o apetite por riscos no mercado. Recentemente, Donald Trump anunciou tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses e novos controles de exportação para softwares críticos, até o dia 1º de novembro, antes da expiração da trégua tarifária entre os dois países.
Essas medidas foram resposta à intensificação dos controles chineses sobre exportação de elementos de terras raras, essenciais para várias indústrias como a automobilística e de defesa.
Trump declarou em entrevista que a proposta de tarifa de 100% não é sustentável, mas que foi forçado a tomar essa decisão. Ele confirmou que se reunirá com o líder chinês Xi Jinping em duas semanas, na Coreia do Sul.
Ele afirmou: “Acredito que teremos um bom relacionamento com a China, mas precisamos de um acordo justo”.
O aumento das tensões comerciais desperta temor de uma guerra comercial semelhante à que ocorreu no início do ano, quando tarifas elevadas foram impostas por ambas as partes, seguidas de uma trégua com redução temporária das tarifas até 12 de novembro.
Além disso, surge uma nova fonte de preocupação nos mercados globais: o risco de uma bolha de crédito nos EUA estourar, o que poderia desestabilizar o sistema bancário da maior economia mundial.
Esse receio começou após o colapso da First Brands Group, fabricante de anticongelantes e pastilhas de freio, uma das maiores emissoras de CLOs (obrigações de empréstimos garantidos), que são títulos que reúnem empréstimos de empresas com baixo grau de investimento e os vendem a investidores.
As CLOs são populares entre seguradoras e outros investidores grandes, pois acreditam estar protegidos contra calotes distribuindo os empréstimos entre várias empresas.
Porém, a falência repentina da First Brands trouxe preocupações sobre o rápido crescimento desse mercado, que envolve empréstimos alavancados usados frequentemente por fundos para financiar aquisições. Gestores de fundos temem que perdas contínuas possam afetar negativamente o sistema financeiro de Wall Street.
Andrew Milgram, diretor de investimentos da Marblegate Asset Management, especializada em dívidas problemáticas, disse: “Há um reconhecimento relutante de problemas substanciais e perigosos para a economia em geral”.
Essa falência segue o pedido de recuperação judicial da Tricolor Auto, financeira de automóveis voltada para crédito de maior risco, com suspeitas de fraude. Acredita-se que esses casos não sejam isolados.
Pratik Gupta, estrategista do Bank of America, afirmou: “Essas inadimplências destacam falhas e desafios na avaliação de crédito, e o mercado tem adotado uma visão mais negativa sobre os fundamentos do crédito”.
Ainda há suspeitas de fraudes em empréstimos ligados a fundos imobiliários problemáticos, levando investidores a reduzir exposição no setor, segundo a Ágora Investimentos. O índice bancário regional dos EUA caiu 6% na quinta-feira, após problemas divulgados por dois pequenos bancos.
O Zions Bancorporation registrou perdas de US$ 50 milhões ligadas a empréstimos comerciais, e a Western Alliance iniciou processo alegando fraude contra o Cantor Group.
Analistas traçam paralelos entre essas falências e fraudes, chamando atenção para os riscos no crédito privado, um mercado em expansão, mas com menor regulação, onde muitas empresas tomaram empréstimos elevados nos últimos anos.
Jamie Dimon, presidente-executivo do JPMorgan Chase, comentou: “Quando você vê uma barata, provavelmente há mais, e todos devem estar atentos”.
