O dólar tem caído de forma consistente nesta sexta-feira (22), depois do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, indicar que pode haver um corte na taxa de juros na próxima reunião em setembro.
Às 11h23, o dólar estava cotado a R$ 5,435, recuando 0,76%, e a bolsa brasileira subia 1,92%, alcançando 137.094 pontos.
Powell comentou que existe a possibilidade de reduzir os juros na reunião do Fed marcada para os dias 16 e 17 de setembro.
Em seu discurso no simpósio de Jackson Hole, ele destacou que há riscos de a inflação aumentar e o mercado de trabalho se enfraquecer, o que poderia levar a mudanças na política monetária dos EUA.
No entanto, o presidente do Fed evitou confirmar a redução dos juros.
Este foi o último discurso de Powell em Jackson Hole como chefe do banco central, já que seu mandato termina em maio.
Nos últimos anos, ele tem usado esse evento para adiantar os passos do Fed em relação à política monetária. Por exemplo, em 2024, ele anunciou o momento de cortar os juros, o que fez o dólar desvalorizar globalmente nas semanas seguintes.
Este ano, a expectativa era semelhante. Desde o começo do mês, após dados fracos de emprego e inflação, o mercado espera que o Fed possa reduzir os juros já na próxima reunião.
Porém, a situação atual é complicada pelo aumento das tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump, o que encarece produtos e pode prejudicar o crescimento econômico, cenário conhecido como estagflação.
Empresas americanas têm tentado minimizar os efeitos imediatos dessas tarifas, mas o mercado acredita que isso não é sustentável a longo prazo, e já surgem sinais das consequências dessas medidas.
Na última quinta-feira, os preços ao produtor subiram 0,9% em julho, acima das previsões, o que é um indicativo de aumento da inflação ao consumidor.
Antes, o mercado tinha 100% de chance de um corte de 0,25 ponto percentual nos juros na próxima reunião, mas agora essa probabilidade caiu para cerca de 75%, com 25% achando que os juros permanecerão entre 4,25% e 4,5%.
O Fed precisa equilibrar dois objetivos: manter a inflação próxima a 2% sem prejudicar o emprego. As tarifas de Trump dificultam essa missão, pois podem acelerar a inflação e reduzir contratações.
Juros altos controlam a inflação mas podem prejudicar o mercado de trabalho, enquanto cortes nos juros ajudam o emprego, mas podem aumentar a inflação.
Leonel Mattos, analista da StoneX, afirma que todos estão atentos ao que Powell vai comunicar, já que a situação econômica está muito incerta.
Além disso, a ata da reunião de julho do Fed mostrou que a maioria dos membros prefere manter os juros estáveis, com apenas dois dirigentes favoráveis a cortes para proteger o emprego.
O discurso de Powell poderá mostrar se ele se alinha àqueles que defendem proteger o mercado de trabalho ou aos que são cautelosos com a inflação.
A possibilidade de cortes nos juros pelo Fed pode fortalecer o real, já que a taxa Selic no Brasil está alta, tornando os investimentos locais mais atrativos.
Por outro lado, fatores internos, como decisões do Supremo Tribunal Federal, têm impacto no câmbio.
Na segunda-feira, o ministro Flávio Dino decidiu que decisões judiciais ou executivas de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se aprovadas pelo Supremo.
Essa decisão, apesar de não estar ligada diretamente à disputa entre Brasil e EUA, afeta o cenário político e econômico.
Instituições financeiras podem ser penalizadas se aplicarem sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, que está na mira do governo Trump desde julho por decisões judiciais polêmicas.
Isso provocou queda significativa no valor das ações do setor bancário na bolsa esta semana.
Alexandre de Moraes, relator do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, tem sido alvo de críticas e acusações por sua atuação judicial.