O dólar fechou em baixa nesta terça-feira, valendo cerca de R$ 5,37, refletindo a fraqueza da moeda americana no mercado internacional. Investidores passaram a acreditar mais em uma possível redução dos juros pelo Federal Reserve em dezembro, após a divulgação de dados econômicos dos EUA que estavam atrasados devido à paralisação do governo.
O real teve ganhos menos expressivos em comparação a outras moedas da América Latina, como o peso mexicano e o chileno. Especialistas destacam que a cautela fiscal no Brasil reduziu o impulso da moeda local. Houve preocupação com a aprovação no Senado de um projeto que regulamenta a aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde, conhecido como “pauta-bomba” pelo impacto fiscal significativo. A aprovação ocorreu após o fechamento do câmbio.
O dólar atingiu uma mínima de R$ 5,3576 pela manhã e chegou a subir acima de R$ 5,40 ao meio-dia, antes de cair novamente devido à queda da moeda americana no exterior.
Ao final do dia, o dólar registrou queda de 0,34% a R$ 5,3767, marcando o segundo dia consecutivo de recuo, uma correção após a alta significativa da última sexta-feira. Com isso, o dólar tem uma leve baixa no mês de outubro e uma desvalorização de 13% no ano.
Reginaldo Galhardo, gerente da Treviso Corretora, comenta que a aprovação do projeto no Senado pode estar ligada a movimentações políticas internas, aumentando a percepção de risco fiscal no país. “O dólar cai aqui apenas porque o ambiente lá fora favorece moedas emergentes. O cenário interno ainda é frágil”, afirma.
O índice DXY, que mede o dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, caiu abaixo de 100 pontos, indicando enfraquecimento da moeda americana. Dados recentes mostram que a inflação e as vendas no varejo dos EUA ficaram dentro ou abaixo das expectativas, reforçando a expectativa de queda dos juros pelo Fed em dezembro.
Patricia Krause, economista da Coface para a América Latina, explica que os dados sugerem cortes de juros pelo Fed, o que beneficia moedas emergentes e impacta o dólar mundialmente.
Nos EUA, o diretor indicado por Donald Trump para o Fed, Stephen Miran, declarou que a situação atual exige redução das taxas de juros, citando o aumento do desemprego devido à política monetária rigorosa. Há também rumores sobre possibilidade de troca na liderança do Fed, com Kevin Hassett sendo favorito para substituir Jerome Powell.
No Brasil, destaque para contas externas em outubro, que mostraram déficit um pouco maior que o esperado, mas o maior volume de investimentos diretos no país desde janeiro, indicando certo suporte financeiro externo.
Sergio Goldenstein, economista da Eytse Estratégia, observa que apesar dos desafios, o mercado externo continua oferecendo suporte ao Brasil principalmente via investimentos em renda fixa, impulsionados pelo diferencial de juros.
Mercado de ações
O Ibovespa teve leve alta, mostrando recuperação moderada em um dia sem grandes novidades. O índice fechou em 155.910 pontos, com ganhos semanais e mensais acumulados positivos. Entre as ações, empresas siderúrgicas se destacaram positivamente, enquanto Petrobras e algumas outras sofreram quedas.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, comenta que a expectativa de corte de juros nos EUA tem estimulado uma postura mais positiva nas ações cíclicas e de setores ligados a juros e consumo.
Além disso, houve avanços nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, apesar de recentes ataques russos contra a Ucrânia, gerando certo otimismo nos mercados.
No cenário político interno, ainda existe preocupação com a aprovação da pauta fiscal no Senado, e disputas políticas ligadas a indicações para o Supremo Tribunal Federal, aumentando a cautela dos investidores.
Juros
Os juros futuros no Brasil caíram na parte final do dia, renovando mínimas, influenciados por declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, que sinalizou para possível redução da Selic em breve.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, reforçou que a inflação está desacelerando, mas ainda precisa se aproximar da meta de 3%. O mercado debate se o corte começará em janeiro ou março, com muitas expectativas para a próxima reunião do Copom.
Nos Estados Unidos, os rendimentos dos títulos públicos caíram, refletindo a expectativa de redução dos juros pelo Fed em dezembro. Dados econômicos recentes, como o índice de preços ao produtor e o mercado de trabalho, reforçaram essa visão.
Bruno Shahini, especialista da Nomad, destaca que o mercado americano já atribui uma alta chance de corte de juros no final do ano, enquanto o mercado brasileiro reage mais com moderação, atento às notícias internas e ao próximo índice oficial de preços ao consumidor, o IPCA-15.
