O dólar encerrou o dia em baixa, após dois dias consecutivos de alta significativa, fechando a R$ 5,4729. Essa correção ocorreu principalmente devido a uma queda da moeda no mercado internacional, relacionada às expectativas de cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos.
Especialistas afirmam que os aumentos recentes no risco cambial, provocados pelas tensões entre o Judiciário brasileiro e os Estados Unidos, já foram amplamente incorporados no valor do dólar, que subiu acima de R$ 5,50 na última semana.
O valor do real pode desvalorizar novamente caso os Estados Unidos decidam reagir com mais rigidez à decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que leis estrangeiras só têm validade no Brasil após aprovação da Justiça nacional. Essa decisão protege o ministro Alexandre de Moraes de sanções americanas baseadas na Lei Magnitsky.
Sem novidades internas, o mercado seguiu a tendência global, em que o real valorizou diante do dólar. O economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, explica que a oscilação da moeda brasileira está mais ligada a fatores externos do que às tensões políticas.
A manhã foi marcada por notícias de conflitos internos nos Estados Unidos envolvendo o governo Trump e o Federal Reserve, com acusações de fraude contra uma diretora do banco central americano, o que aumentou as expectativas de flexibilização na política monetária.
Apesar disso, a ata divulgada pelo Federal Reserve mostrou preocupação com o impacto inflacionário das tarifas, suavizando a queda do dólar lá fora e mantendo a valorização do real.
O mercado aguarda agora o pronunciamento do presidente do Fed, Jerome Powell, no evento de Jackson Hole para entender os próximos passos da política de juros americana.
Internamente, o ministro Alexandre de Moraes declarou que os bancos brasileiros devem cumprir as regras americanas, mas podem sofrer punições caso apliquem a legislação estrangeira para bloquear ativos no Brasil. Ele acredita que a administração Trump pode recuar das sanções.
Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, afirma que o mercado está realizando ajustes após uma forte alta do dólar, apesar do ambiente ainda estar tenso pelas sanções e decisões do STF.
Ibovespa
O principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, oscilou durante o dia e terminou praticamente estável, recuperando-se parcialmente das perdas recentes causadas pelos conflitos diplomáticos. O índice fechou próximo a 134.666 pontos, com volume financeiro reduzido.
Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, observa que o mercado está incerto diante das decisões judiciais que impactam bancos e instituições financeiras, e que possíveis sanções americanas podem prejudicar o acesso desses bancos ao mercado internacional.
A recuperação das ações bancárias foi modesta, com destaque para Santander. Entre os maiores ganhos, apareceram empresas como Pão de Açúcar, enquanto ações de commodities como Vale caíram levemente e Petrobras teve leve alta.
Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, ressalta que o Brasil está enfrentando simultaneamente duas pressões legais dos Estados Unidos: tarifas elevadas e sanções previstas na Lei Magnitsky, o que constitui uma nova forma de pressão econômica e diplomática.
Segundo ele, a decisão do ministro Flávio Dino reforça a soberania nacional, mas pode aumentar a insegurança jurídica para investidores estrangeiros, afetar bancos e dificultar o financiamento de empresas brasileiras.
Juros
As taxas futuras de juros apresentaram queda, acompanhando a redução dos rendimentos dos títulos americanos e a correção do dólar. Após forte volatilidade causada pela decisão do ministro do STF, o mercado atua de forma cautelosa esperando possíveis novas sanções dos EUA, que até o momento não ocorreram.
A intenção do ministro Alexandre de Moraes de cumprir a legislação americana, mas evitar que ela tenha aplicação automática no Brasil sem homologação judicial, tenta equilibrar as pressões internas e internacionais.
A ata do Federal Reserve revelou preocupação com a inflação, mas dados recentes mostram um mercado de trabalho frágil, o que aumenta a expectativa de redução das taxas de juros em setembro, movimento aguardado para o pronunciamento de Jerome Powell.
O economista-chefe da AZ Quest Investimentos, André Muller, destaca que, apesar da alta recente dos juros futuros no Brasil, os fundamentos econômicos indicam enfraquecimento da atividade e inflação abaixo do esperado.
Roberto Secemski, do Barclays, alerta que as tensões entre Brasil e EUA podem aumentar, principalmente com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF se aproximando, o que pode levar a novas sanções contra membros do tribunal ou bancos brasileiros.
Uma pesquisa recente indica que a maioria dos brasileiros considera o atual mandato do presidente Lula melhor do que o de seu antecessor, o que, segundo especialistas, não teve impacto significativo no mercado financeiro até o momento.